Dom Celso Antônio Marchiori // Bispo da Diocese de Apucarana – Pr.
1.
O QUE A IGREJA FALA SOBRE A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?
A Igreja nos ensina que “A reserva do Corpo de Cristo para a
Comunhão dos enfermos criou entre os fiéis o louvável costume de se recolherem
em oração para adorar Cristo realmente
presente no Sacramento conservado no
sacrário. Recomendada pela
Igreja aos Pastores e fiéis, a
adoração do Santíssimo é uma alta expressão da relação existente entre a
celebração do sacrifício do Senhor e a sua
presença permanente na Hóstia Consagrada” (cf. De
sacra Communione, 79-100;
Ecclesia de Eucharistia, 25; Mysterium
fidei; Redemptionis Sacramentum, 129-141). Sobre este ponto assim se
expressa o Romano Pontífice em sua Exortação
Apostólica Pós-sinodal, Sacramentum Caritatis, nº 66: “De fato, na Eucaristia, o Filho de Deus vem ao nosso encontro e deseja
unir-Se conosco; a adoração eucarística é apenas o prolongamento visível da
celebração eucarística, a qual, em si mesma, é o maior ato de adoração da
Igreja: receber a Eucaristia significa colocar-se em atitude de adoração
d'Aquele que comungamos. Precisamente assim, e somente assim, é que nos
tornamos um só com Ele e, de algum modo, saboreamos antecipadamente a beleza da
liturgia celeste. O ato de adoração fora
da Santa Missa prolonga e intensifica
aquilo que se fez na própria celebração litúrgica. Com
efeito, “somente na adoração pode maturar um acolhimento profundo e verdadeiro.
Precisamente neste ato
pessoal de encontro
com o Senhor
amadurece depois também
a missão social, que está encerrada na Eucaristia e deseja romper as
barreiras, não apenas entre o Senhor e nós mesmos, mas também, e
sobretudo, as barreiras que nos
separam uns dos outros”. Portanto, “O permanecer em
oração diante do
Senhor vivo e
verdadeiro no santo
Sacramento amadurece nossa união
com ele: dispõe-nos para a frutuosa celebração da Eucaristia e prolonga as
atitudes de culto por ela suscitadas” (Ano
da Eucaristia. Nº 13 - 15 de Outubro de 2004).
2. SEGUNDO A BÍBLIA O QUE DEUS NOS FALA SOBRE A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?
Na Bíblia não vamos encontrar
literalmente a expressão: “adoração
ao Santíssimo Sacramento”. Mas, na verdade, o que é o
Santíssimo Sacramento? É Deus presente no meio do seu povo. É Jesus atuando na
história. Portanto, vamos encontrar na Bíblia diversos textos que nos sugerem
adoração a Deus. De fato, somente a Deus devemos adorar. Adorar a Deus é o
máximo que podemos fazer enquanto passamos pelos caminhos da existência
terrestre. Nossa primeira atitude como criaturas diante do Criador é, sem
dúvida, a adoração. Pela adoração exaltamos a grandeza do Senhor que nos fez e
a onipotência do Salvador que nos liberta do mal. A adoração do Deus três vezes
santo e sumamente amável nos enche de humildade e dá garantia a nossas
súplicas. No Antigo Testamento podemos ler freqüentes vezes expressões como
estas: “Todo o povo se prostrou com o
rosto em terra para adorar e bendizer no céu aquele que os havia conduzido ao
triunfo” (1 Mac 4, 55). “Assim vos bendirei em toda a minha vida,
com minhas mãos erguidas vosso nome adorarei” (Sl 62, 5). “É somente a vós,
Senhor, que devemos adorar” (Br 6,
5). “Prostrando-se diante dele, o
adoraram” (Mt 2, 11). “...os
verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, e são esses
adoradores que o Pai deseja” (Jo 4,
23). Quando nos prostramos em adoração a Jesus no Santíssimo
Sacramento, somos muito mais felizes que Abraão, Moisés, Davi, os
Profetas... Sem dúvida, eles adoraram a Deus Santíssimo, ou como é comum na
Bíblia, ao Deus três vezes Santo, ou ao Santo, Santo, Santo, o Senhor Deus do
universo. Mas como nos diz a Palavra em Hb
11, 13, eles “morreram firmes na fé.
Não chegaram a desfrutar a realização da promessa, mas puderam vê-la e saudá-la
de longe e se declararam estrangeiros e peregrinos na terra que habitavam”.
Nós, porém, somos privilegiados. Diante do Santíssimo Sacramento, nossa
experiência se identifica com a experiência dos Apóstolos, pois estamos diante
de Jesus vivo e operante. No silêncio, ele nos ensina como Mestre. Encerrado no
Sacrário ele nos dá a liberdade, escondido na Hóstia Consagrada ele
nos revela a glória de Deus Pai e o poder do Espírito Santo. Assim como no
deserto o Senhor Deus libertou seu povo da escravidão do Egito, no Santíssimo
Sacramento o Senhor Jesus nos liberta de nossa aridez espiritual, de nosso
egocentrismo, de nossos vãos desejos. Ele nos liberta da escravidão do pecado e
nos conduz à vida da graça. Ele nos aproxima do Pai celestial e de todos os
irmãos e irmãs, faz-nos crescer em comunhão, torna-nos solidários com os mais carentes
e nos abre o coração para acolhermos a vontade de Deus. No Santíssimo
Sacramento, Jesus é nosso refúgio e nossa segurança, nossa paz, nosso caminho,
nossa vida e nossa verdade. Ali no tabernáculo Jesus nos aponta para o
Tabernáculo eterno.
3. COMO PREPARAR-SE PARA PRATICAR A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?
É recomendável, para um aproveitamento
mais eficaz da devoção eucarística, que os adoradores estejam em estado de
graça, ou seja, que pratiquem a confissão sacramental com mais freqüência,
busquem viver uma vida digna, sejam testemunhas fiéis, sejam assíduos à leitura
orante da Bíblia, especialmente que
conheçam os Santos Evangelhos como também tenham sempre mais interesse
pelo estudo da doutrina católica, sobretudo pelo que a Igreja ensina através de
seu Catecismo e de seus documentos. Reconhecendo Jesus na Eucaristia,
precisamos também reconhecê-lo entre nós, em todas as pessoas e especialmente
na pessoa dos mais sofredores.
4. COMO FAZER A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?
Segundo a tradição da Igreja,
exprime-se de diversas modalidades:
– a simples visita ao Santíssimo
Sacramento, conservado no Sacrário: breve encontro com Cristo, sugerido pela fé
na sua presença e caracterizado pela oração silenciosa;
– a adoração diante do Santíssimo
Sacramento exposto, segundo as normas litúrgicas, na custódia ou na píxide, de
forma prolongada ou breve;
– a adoração perpétua, a das Quarenta
Horas ou noutras formas, que empenham toda a comunidade religiosa, uma associação
eucarística ou uma comunidade paroquial, e que são ocasião de numerosas
expressões de piedade eucarística (cf. Diretório, 165).
- cada um de nós tem sua criatividade;
são inúmeras as formas que nos ajudarão a adorar profunda e respeitosamente a
Jesus Eucarístico; diversos são os instrumentos que podemos usar para nos
ajudarem a rezar com eficácia diante do Santíssimo; temos a Bíblia,
especialmente os Salmos, o rosário é um valioso e eficaz instrumento para nossa
adoração, existe ainda uma infinidade de livros de orações; mas nunca nos
esqueçamos de que se faz muito importante o silêncio; a oração silenciosa e
contemplativa é de um valor sem medida; precisamos resgatar o silêncio em
nossas adorações eucarísticas; nós precisamos aprender a cultivar o silêncio
que nos leva às profundezas do ser, onde podemos realmente ter um encontro
alegre e salvífico com o Senhor.
5. QUAIS OS BENEFÍCIOS E EFEITOS DA ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?
Adorar Jesus no Santíssimo Sacramento,
além de nos encher de alegria, também sentimos amadurecer nossa união com Ele;
somos mais livremente conduzidos à celebração da Eucaristia e saudavelmente
crescemos no amor a Deus e ao próximo. Em outras palavras, essa relação pessoal
com o Senhor favorece um contínuo crescimento na fé e prolonga a graça do
Sacrifício Eucarístico celebrado especialmente no Domingo (Dies Domini). A
Eucaristia estimula à conversão e purifica o coração. Reaviva nosso coração e
nos impulsiona à celebração da Missa Dominical. O ato de adorar Jesus no Santíssimo
Sacramento nos aproxima de Deus Pai, abre nosso coração para a ação do Espírito
Santo, faz arder nosso coração quando lemos as Escrituras, especialmente os
Santos Evangelhos, impulsiona-nos para irmos ao encontro dos irmãos,
especialmente os mais necessitados, firma-nos como discípulos e nos faz
ardorosos missionários. Nosso “encontro
com o Senhor, presente na Eucaristia, amadurece também a missão social, que
está encerrada na Eucaristia e deseja romper as barreiras não apenas entre o
Senhor e nós mesmos, mas também e, sobretudo, as barreiras que nos separam uns
dos outros” (Bento XVI). A
adoração ao Santíssimo Sacramento purifica e alimenta a comunhão entre os
esposos; tonifica o ministério dos Pastores da
Igreja e a docilidade dos fiéis ao seu magistério; os enfermos
experimentam a comunhão com o sofrimento de Cristo; todos se sentem motivados a
buscar a reconciliação sacramental para poderem
comungar com proveito; a comunhão
e a unidade são garantidas entre os múltiplos carismas, funções, serviços,
grupos e movimentos no seio da Igreja; todas as pessoas empenhadas nas diversas
atividades, serviços e associações de uma paróquia, são identificadas por
atitudes pautadas pelos valores do Evangelho e por uma espiritualidade de
comunhão; e ainda, a adoração ao Santíssimo sustenta as relações de paz, de
entendimento e de concórdia na cidade terrena, entre todos os seres humanos. “Prostrando-nos diante da Eucaristia,
aprenderemos de maneira certa o que significa comunhão, cultura do diálogo,
vida solidária, serviço aos mais necessitados e respeito à dignidade humana”.
Graças à iniciativa do Senhor que quis permanecer conosco podemos aprender dele
as melhores lições. A busca incessante de muitos homens de hoje em responder às
suas grandes perguntas não pode ser desvinculada da fé que nos faz prostrar
diante de Jesus “simples” (DIEGO TALES). Portanto, “Permaneçamos longamente prostrados diante de Jesus presente na Eucaristia,
reparando com a nossa fé e o nosso amor os descuidos, os esquecimentos e até os
ultrajes que nosso Salvador deve sofrer em tantas partes do mundo” (Mane Nobiscum Domine, n.18). No
Documento para o Ano da Eucaristia, Nº 6, encontramos este salutar ensinamento:
“A Eucaristia nos torna santo, e não pode
existir santidade que não esteja encarnada na vida eucarística”. “Quem come a
minha carne viverá por mim” (Jo 6,
57).
6. QUAIS OS PREJUÍZOS QUANDO NÃO PRATICAMOS A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?
Segundo o Papa Bento XVI, “pecaríamos
se não adorássemos” o Santíssimo Sacramento. Diante de Jesus Sacramentado
encontramos refúgio, alento, renovação de nossas forças desgastadas pelos
inúmeros trabalhos e preocupações. Se deixarmos de procurar Jesus no Santíssimo
Sacramento não estamos em comunhão com Ele que se entrega totalmente a nós na
celebração da Missa. Não praticar a adoração ao Santíssimo Sacramento pode
significar que Jesus não está em primeiro lugar em nossa vida. E se Ele não
ocupa o primeiro lugar em nossa vida, estamos em dificuldades, pois “sem Ele nada podemos fazer” (Jo 15, 5); sem Jesus deixamos de
produzir frutos, ou seja, virtudes, atos de amor, e se não somos virtuosos ou
não praticamos atos de amor, tornamo-nos perigosos para nós mesmos e para os
que conosco convivem. Sem Jesus falamos o que não convém, o que não edifica;
fazemos coisas que impedem nosso crescimento no Reino de Deus e,
conseqüentemente, nossa comunhão com Deus e com os irmãos fica comprometida.
Sem adoração a Jesus no Santíssimo Sacramento perdemos muitas graças, muitas
bênçãos; e, ainda, não contribuímos para que o Reino de Deus cresça, para que
os pecadores se convertam, para que a paz, que é fruto da justiça, reine em
nossos corações, em nossos lares, em nossas comunidades, em nossa sociedade e
no mundo. Os prejuízos seriam muitos. Poderíamos identificá-los com o que
encontramos em Jo 15, se não permanecermos unidos a Jesus. E é dEle mesmo que
escutamos este apelo “sem mim nada podeis
fazer” (Jo 15, 5).
7. QUAL A REGULARIDADE PARA PRATICAR A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?
Felizmente não existe limite. Sempre
que tenhamos tempo disponível e Igreja ou Oratório por perto, aproveitemos para
fazer uma visita ao Senhor presente no Santíssimo Sacramento. Especialmente
busquemos a Jesus sacramentado antes da Missa Dominical, ou ainda, quando
estivermos passando por uma Igreja ou Oratório, sintamo-nos livres para irmos
ao encontro do senhor que alegremente nos aguarda no Sacrário para nos acolher
e derramar sobre nós suas graças, seu carinho e seu amor. Quanto mais
permanecemos ao lado de quem nos ama mais nos sentimos amados. Quanto mais
perto de Jesus no Santíssimo Sacramento, mais nos sentimos amados por ele, e,
consequentemente, mais nos sentimos impelidos a amar nossos semelhantes.
Segundo Bento XVI “É bom demorar-se com
Ele e, inclinado sobre o seu peito como o discípulo predileto (cf. Jo 13, 25),
deixar-se tocar pelo amor infinito do seu coração. Se atualmente o cristianismo
se deve caracterizar sobretudo pela «arte da oração», como não sentir de novo a
necessidade de permanecer longamente, em diálogo espiritual, adoração
silenciosa, atitude de amor, diante de Cristo presente no Santíssimo
Sacramento? Quantas vezes, meus queridos irmãos e irmãs, fiz esta experiência,
recebendo dela força, consolação, apoio!”. Sigamos o exemplo de tantos
santos e santas que “na Eucaristia
encontraram o alimento para o seu caminho de perfeição. Quantas vezes eles
verteram lágrimas de comoção na experiência de tão grande mistério e viveram
indizíveis horas de alegria ‘esponsal’ diante do Sacramento do altar”. (Mane Nobiscum Domine, n.31). Daí que,
ainda neste mesmo Documento, somos assim motivados: “A presença de Jesus no tabernáculo deve constituir como que um pólo de
atração para um número sempre maior de almas apaixonadas por Ele, capazes de
ficar longo tempo escutando a voz e quase que sentindo o palpitar do coração”
(Mane Nobiscum Domine, n.18). Neste
mesmo documento, no nº30,
dirigindo-se especialmente aos consagrados e consagradas, João Paulo II faz um
veemente convite dizendo “Jesus no
Sacrário espera por vós junto d'Ele, para derramar nos vossos corações aquela
experiência íntima da sua amizade que é a única que pode dar sentido e
plenitude à vossa vida”. Acolhamos nós também esse amável convite e não
hesitemos em correr ao encontro do Senhor para permanecermos em oração diante
d’Ele.
8. QUEM PODE E QUEM DEVE PRATICAR A ADORAÇÃO AO SANTÍSSIMO SACRAMENTO?
Podem
e devem praticar a adoração ao Santíssimo Sacramento todos os que acreditam na
presença real de Jesus na Santíssima Eucaristia e querem viver uma experiência
de intimidade com o Senhor ressuscitado. A adoração eucarística é um
prolongamento da celebração da Missa, de tal forma, que ficará faltando alguma
coisa para quem realiza sua adoração e não participa da Missa, especialmente
aos Domingos, pois “A celebração eucarística é, com efeito, o coração do
Domingo”. Poderíamos dizer, então, que somente quem celebra o Domingo, com sua
participação na celebração da Missa, pode realmente adorar o Senhor no
Santíssimo Sacramento, a não ser que se esteja impedido, por algum motivo, de
participar da celebração dominical. A adoração eucarística é um exercício
espiritual, pessoal ou comunitário, que nasce da celebração do memorial da
Páscoa do Senhor, a Santa Missa, e a este mistério o adorador deve ser
conduzido. Então, podemos afirmar que “o
verdadeiro adorador é alguém que participa plenamente da Ceia do Senhor, onde
recebe o Pão da Vida e o toma do Cálice da Salvação. Ele consegue, na prece
silenciosa diante da Eucaristia, fazer passar pelo coração (recordar) as
maravilhas de Deus. É alguém que ama verdadeiramente a sua comunidade eclesial
e que não recusa jamais o serviço aos irmãos e irmãs, prolongando, assim, a
Eucaristia na vida”. O verdadeiro adorador busca profeticamente construir a
comunhão e a unidade na comunidade onde vive e desenvolve sua fé. Quem pratica
com devoção e humildade a adoração ao Santíssimo Sacramento vive como os
primeiros cristãos, como está registrado no livro dos Atos dos Apóstolos, que
eram assíduos à oração, com Maria, mãe de Jesus. E que “Unidos de coração freqüentavam todos os dias o templo” (cf. At 1, 14; 2, 46).