ARAUTOS DA SALVAÇÃO - Ai de mim se não evangelizar

Lectio Divina

Pe. Régis Bandil // Curitiba – Pr.

"Quando encontrei tuas palavras, alimentei-me; elas se tornaram para mim uma delícia e a alegria do coração, o modo como invocar teu nome sobre mim, Senhor Deus dos exércitos." (Jr 15,16)

1. O QUE A IGREJA FALA SOBRE A BÍBLIA.

A Palavra de Deus tem sido algo de profunda reflexão na Igreja Católica. Há um clamor em todas as comunidades para que a Sagrada Escritura seja  realmente mais  valorizada, mais  vivida, mais amada  e mais  lida.

Fazendo uma pequena comparação, por exemplo, quando compramos um aparelho eletrônico (televisão, DVD, celular, etc), esses produtos vem com um manual que orienta para o seu uso correto. Da mesma forma quando queremos conhecer a história de alguém famoso (um santo, uma santa, um rei, uma rainha, etc), fazemos uso da biografia dessas pessoas. Dessa maneira nós acabamos conhecendo como não estragar os aparelhos eletrônicos e a história de uma pessoa humana. 

“Encontramos Jesus na Sagrada Escritura, lida na Igreja. A Sagrada Escritura, “Palavra de Deus escrita por inspiração do Espírito Santo”, é, com a Tradição, fonte de vida para a Igreja e alma de sua ação evangelizadora. Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e renunciar a anunciá-lo.” Documento de Aparecida, n. 247. 

Aqui está à chave para tomarmos a Palavra de Deus como fonte de inspiração para as nossas vidas.  Para o Povo de Deus, a Bíblia é lugar privilegiado no qual encontra-se a  sua história e experiência pessoal com Deus. Este conjunto de Livros modificou a estrutura da história humana, tamanha é a profundidade e o irresistível conteúdo contido nestas sagradas páginas.  

A Bíblia não foi feita por mentes humanas, mais inspirada por Deus através de diversos autores. Em comum tiveram a preocupação em manter a história e a identidade de um povo amado e escolhido. A bíblia possui dois testamentos: o Antigo e o Novo, o primeiro preparou a  vinda do messias, Jesus Cristo, narrada no Novo Testamento.

"Testamento" tem aqui o sentido antigo de "pacto atestado", pois a experiência religiosa  de Israel se apresenta em forma de um pacto, uma aliança oferecida por Deus ao "povo  eleito", Israel, e, segundo os cristãos, renovada e ampliada por Jesus de Nazaré para o mundo inteiro.

2. COMO PREPARAR-SE PARA LER A BÍBLIA.

Para conhecermos Jesus Cristo, reconhecê-lo como filho de Deus e orientarmos nossa vida conforme o anúncio Evangelho, é necessário irmos direto na fonte da verdade, que está contida nas linhas e páginas das nossas Bíblias.  Esse é o caminho para consolidarmos nossa intimidade com Jesus Cristo, tê-lo como aquele amigo que está sempre ao nosso lado, e não como uma pessoa distante ou indiferente a nossa realidade. Na Palavra de Deus encontramos toda a História da Salvação (Antigo e Novo Testamento), não é uma história qualquer, é a revelação do mistério de Deus aos homens. Esta nos acompanha desde o início da nossa criação até o fim de nossa peregrinação sobre a terra. 

Deixando ser guiados pelas orientações e ensinamentos da Palavra de Deus, os cristãos serão capazes de responder às exigências do mundo atual no tocante as diversas injustiças que acompanhamos e presenciamos. 

Seremos uma comunidade reflexo do amor de Deus no seio do mundo, nossas obras e nosso testemunho serão frutos da ação do Espírito Santo e do conhecimento da Bíblia. Não precisaremos ter medo de palavras humanas, mas o próprio Deus nos inspirará a falarmos as suas palavras. Além é claro de dar razoes da sua fé (Ler 1 Pe 3,15).

3. SEGUNDO A BÍBLIA O QUE DEUS NOS FALA SOBRE A SUA PALAVRA.

“A Palavra de Cristo habite em vós com abundância, para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros, com toda a sabedoria. E, com salmos, hinos e cânticos inspirados, cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão. E tudo o que fizerdes por palavras ou por obras, seja tudo em nome do Senhor Jesus, dando graças, por Ele, a Deus Pai” (Col 3, 16-17).

É necessário que o homem contemporâneo tome contato com a Palavra de Deus. A falta de orientação e conhecimento faz o ser humano buscar caminhos para Deus em realidades diversas e por muitas vezes confusas.  A Palavra do nosso Deus permanece eternamente (Is 40,8). É fonte de verdade e de satisfação para o homem. 

“É tão grande a força poderosa que se encerra na palavra de Deus, que ela constitui sustentáculo vigoroso para a Igreja, firmeza na fé para seus filhos, alimento da alma, perene e pura fonte da vida espiritual.” (Dei Verbum, n. 21).

 4. QUAIS OS BENEFÍCIOS E EFEITOS DA LEITURA ORANTE DA BÍBLIA?

O distanciamento dos católicos desta riqueza inesgotável preocupa a Igreja. Da Palavra de Deus encontramos Jesus Cristo, a Revelação de Deus aos homens, a salvação da humanidade e a garantia da vida eterna. 

Lutemos por dedicar um tempo para a leitura da Bíblia entre as famílias, nas pastorais, nos movimentos, enfim, que em nossas comunidades, ela seja lembrada o ano todo e não apenas em Setembro durante o mês da Bíblia. Diz São Jerônimo: “A carne do Senhor é verdadeira comida e o seu sangue verdadeira bebida; é esse o verdadeiro bem que nos é reservado na vida presente: alimentar-nos da sua carne e beber o seu sangue, não só na Eucaristia, mas também na leitura da Sagrada Escritura”. 

A Palavra de Deus ilumina a vida dos católicos e está presente na comunidade reunidas em diversas ações: catequese, liturgia e oração, nos sacramentos, nos cursos e encontros de formação, etc. Afastar-se dela é perder um importante alimento para a nossa vida interior e de crescimento na escola da fé. 

5. QUAIS OS PREJUÍZOS QUANDO NÃO ESTUDAMOS A BÍBLIA?

O discípulo missionário do século XXI precisa estar fundamentado nas Sagradas Escrituras, sua missão vai ser proclamar àquilo que lê, crê e celebra a partir do seu encontro pessoal com Jesus Cristo. O anúncio do Evangelho atinge o coração do ser humano quando nos abrimos a experiência do amor de Deus e da misericórdia contida na Palavra de Deus. 

Se nossa experiência com Deus não parte da Sagrada Escritura perdemos uma fonte sagrada que nos leva a Santidade, além é claro, de dirigirmos nossa vida pela nossa vontade humana e não pela vontade divina.  E infelizmente nos guiamos por outros caminhos que nós conhecemos, por exemplo, televisão, internet, etc, que nem sempre nos levam para Deus. 

6. COMO LER A BÍBLIA?

Um dos métodos para transformar a Bíblia como itinerário de oração é o que conhecemos por Lectio Divina. Ele é composto de quatro momentos interligados. Mas atenção é preciso dar um tempo diário da nossa vida para Deus, realmente privilegiar essa prática ou outras que nos ajudam a tomar intimidade com a Bíblia.  

Os momentos são:

Leitura: Lê-se, em primeiro lugar, a sós ou em grupo, uma passagem da Escritura;

Meditação: Segue-se um tempo de meditação, que é um aprofundamento do sentido do que se leu, apelando à inteligência, à memória, à imaginação e ao desejo, eventualmente com a partilha da palavra;

Oração: Na medida em que se vai escutando o que Deus diz, o fiel responde com a oração, que pode ser de arrependimento, de ação de graças, de intercessão, de súplica ou de louvor;

Contemplação: Na medida da graça do Espírito Santo, esta oração desabrocha em saborosos momentos de contemplação, que tornam mais viva e íntima a comunhão com Deus, e predispõe a alma para uma vida mais santa e mais ativa na realização do Reino de Deus.

7. QUAL A REGULARIDADE PARA LER A BÍBLIA? QUEM PODE LER A BÍBLIA?

A Bíblia deve ter um lugar de destaque em nossa vida, portanto, o ideal é que seja lida diariamente e principalmente que todos os cristãos a leiam e tenham por ela apreço e respeito. Com isso teremos cristãos mais apaixonados e conscientes do valor da Sagrada Escritura.   “Esta leitura orante, bem praticada, conduz ao encontro com Jesus-Mestre, ao conhecimento do mistério de Jesus-Messias, à comunhão com Jesus-Filho de Deus e ao testemunho de Jesus-Senhor do universo. Com seus quatro momentos (leitura, meditação, oração, contemplação), a leitura orante favorece o  encontro  pessoal  com  Jesus Cristo  semelhante  ao modo  de  tantos personagens do evangelho: Nicodemos e sua ânsia de vida eterna (cf. Jo 3,1-21), a Samaritana e  seu  desejo  de  culto  verdadeiro  (cf.  Jo  4,1-12),  o  cego  de  nascimento  e  seu  desejo  de  luz interior (cf. Jo 9), Zaqueu e sua vontade de ser diferente (cf. Lc 19,1-10)... Todos eles, graças a este encontro, foram iluminados e recriados porque se abriram à experiência da misericórdia do Pai que se oferece por sua Palavra de verdade e vida. Não abriram seu coração para algo do Messias, mas ao próprio Messias, caminho de crescimento na “maturidade conforme a sua plenitude” (Ef 4,13), processo de discipulado, de comunhão com os irmãos e de compromisso com a sociedade.” Documento de Aparecida, n. 249.