ARAUTOS DA SALVAÇÃO - Ai de mim se não evangelizar

RCC

Introdução

A Igreja, ao longo de sua história, tem presenciado o surgimento de muitos "despertares" e movimentos de “renovação”. Como observa o conceituado teólogo Heribert Mühlen, em muitos deles “irrompe assim, novamente, a vitalidade pentecostal da Igreja, e isso de um modo nunca previsto”. O "século da Igreja", como foi muitas vezes definido o século XX, já se iniciará sob o signo de uma necessidade: o desejo da presença criadora e libertadora do Espírito.

Em 9 de maio de 1897, o Papa Leão XIII publicou a Encíclica Divinum Illud Munus, sobre o Espírito Santo, "lamentando que o Espírito Santo fosse pouco conhecido e apreciado, concita o povo a uma devoção ao Espírito". A leitura, os sermões e livros sobre este documento influenciarão muitas pessoas, estimulando também um número importante de estudos sobre o papel do Espírito Santo na Igreja. Passadas algumas décadas e convocado solenemente no dia 25 de dezembro de 1961, através da Constituição Apostólica Humanae Salutis, a vida da Igreja contemporânea ficará profundamente marcada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).

Superando a fase apologética defensiva contra o mundo moderno, teve o Concílio o mérito de recolher e direcionar vozes proféticas do século XIX, que buscaram redescobrir a integridade e o ministério da Igreja, bem como movimentos na primeira metade do século XX, entre eles: Movimento Litúrgico, Movimento Bíblico, Movimento Ecumênico, etc., e que traziam um desejo comum: "renovar a vida da Igreja e dos batizados a partir de um retorno às origens cristãs".

Para seu promotor, o Papa João XXIII, o Concílio deveria ser uma "abertura de janelas" para que um "ar novo e fresco" renovasse a Igreja. Depois de quatro etapas conciliares, o Papa Paulo VI encerrou o Concílio Ecumênico Vaticano II em uma cerimônia ao ar livre, na Praça de São Pedro, no dia 8 de dezembro de 1965. Tendo também sido qualificado como o Concílio do Espírito Santo, "O Vaticano II foi um verdadeiro Pentecostes como o mesmo João XXIII havia desejado e ardentemente pedido” e, embora a dimensão carismática jamais deixasse de existir na realidade e na consciência eclesial, sobretudo na Lumen Gentium, em seu primeiro capítulo, o Vaticano II nos torna manifesto esta realidade não como algo secundário, mas como fundamental. Segundo este documento a Igreja é intrinsecamente carismática.

O Concílio Vaticano II não vê nenhum motivo para que se estabeleça uma oposição entre "carisma" e "ministério" ou "carisma" e "instituição"; tal como as instituições e os ministérios, os carismas são realidades igualmente essenciais para a Igreja. O Concílio consegue, assim, superar as antigas impostações dicotômicas que predominaram no campo teológico por vários anos e recupera o equilíbrio salutar da eclesiologia: o Espírito guia a Igreja e a "unifica na comunhão e no ministério; dota-a e dirige-a mediante os diversos dons hierárquicos e carismáticos" (LG 4).

Na perspectiva do Cardeal Suenens, João XXIII estava consciente de que a Igreja necessitava de um novo pentecostes e acrescenta: “Agora, olhando para trás, podemos dizer que o concílio, indicando a sua fé no carisma, fez um gesto profético e preparou os cristãos para acolher a Renovação Carismática que está se espalhando por todos os cinco continentes”. Na compreensão que tem de si, a Renovação Carismática se percebe como um acontecimento estreitamente vinculado ao Concílio:

A Renovação Carismática apareceu na Igreja Católica no momento em que se começava a procurar caminhos para pôr em prática a renovação da Igreja, desejada, ordenada e inaugurada pelo Concílio Vaticano II. Não se havia passado um ano sequer ao término do Concílio, quando em 1966 começou a despontar o fenômeno religioso chamado agora Renovação Carismática. Não sendo, pois, um acontecimento isolado, podemos localizar a Renovação Carismática como um dos desdobramentos da evolução da espiritualidade pós-conciliar.


Nascimento da RCC

A Renovação Carismática Católica, ou o Pentecostalismo Católico, como foi inicialmente conhecida, teve origem com um retiro espiritual realizado nos dias 17-19 de fevereiro de 1967, na Universidade de Duquesne (Pittsburgh, Pensylvania, EUA). Em uma carta enviada dois meses após (29 de abril de 1967), a um professor, Monsenhor Iacovantuno, Patti Gallagher, uma das estudantes que participou do retiro, assim relatou o que aconteceu naqueles dias:

Tivemos um Fim de Semana de Estudos nos dias 17-19 de fevereiro. Preparamo-nos para este encontro, lemos os Atos dos Apóstolos e um livrinho intitulado "A Cruz e o Punhal" de autoria de David Wilkerson. Eu fiquei particularmente impressionada pelo conhecimento do poder do Espírito Santo e, pelo vigor e a coragem com que os apóstolos foram capazes de espalhar a Boa Nova, após o Pentecostes. Eu supunha, naturalmente, que o Fim de Semana me seria proveitoso, mas devo admitir que nunca poderia supor que viria a transformar a minha vida! Durante os nossos grupos de discussão, um dos líderes colocou em tela o fato de que nós devemos confirmar constantemente os nossos votos de Batismo e de Crisma, assim como devemos ter a alma mais aberta para o Espírito de Deus. Pareceu-me curioso, mas um pouco difícil de acreditar quando me foi dito que os dons carismáticos concedidos aos apóstolos são ainda dados às pessoas nos dias atuais – que ainda existem sinais do poder divino e milagres – e que Deus prometeu emanar o seu Espírito para que se fizesse presença a todos os seus filhos. Decidimos, então, efetuar a renovação dos votos de Batismo e de Crisma como parte do serviço da missa de encerramento, no domingo à noite. Mas, no entanto, o Senhor tinha em mente outras coisas para nós!... No sábado à noite, tínhamos programado uma festinha de aniversário para alguns dos colegas, mas as coisas foram simplesmente acontecendo sem alternativa. Fomos sendo conduzidos para a capela, um de cada vez, e recebendo a graça que é denominada de Batismo no Espírito Santo, no Novo Testamento. Isto aconteceu de maneiras diversas para cada uma das pessoas. Eu fui atingida por uma forte certeza de que Deus é real e que nos ama. Orações que eu nunca tinha tido coragem de proferir em voz alta, saltavam dos meus lábios. (...) Este não era, pois um simples bom fim de semana, mas, na realidade, uma experiência transformadora de vida que ainda está prosseguindo e se desenvolvendo em crescimento e expansão. Os dons do Espírito já são hoje manifestados – e isto eu posso testemunhar, porque tenho ouvido pessoas orando em línguas, outras praticam curas, discernimento de espíritos, falam com sabedoria e fé extraordinárias, profetizam e interpretam. Eu, agora, tenho certeza de que não há nada que tenhamos de suportar sozinhos, nenhuma oração que não seja atendida, nenhuma necessidade que Deus não possa cobrir em sua riqueza! E, no depender dele e louvá-lo com fidelidade, eu sinto uma tremenda sensação de liberdade. Podemos tentar viver como cristãos, morrendo para nós mesmos e para o pecado, mas esta será uma luta desanimadora se não contarmos com o poder do Espírito. Ainda existem tentações e problemas, mas agora tenho a certeza e a confiança em Deus, agora ele me dá segurança. Realmente, transforma-me a viver nele. É verdade que na Crisma, nós recebemos o Espírito Santo e que nós somos seus templos, mas nós não nos abrimos o suficiente para receber em nossas vidas os seus dons e o seu poder. É certo que o Espírito Santo é o nosso professor: eu dele aprendi tanto e em tão pouco tempo! As Escrituras vivem! Amém! Eu estou segura de que jamais poderia ter acumulado por minha própria conta tanto conhecimento, apesar de todo o esforço desenvolvido, e com as melhores intenções que tivesse. (…) Eu me vi, de repente, conversando com as pessoas sobre Cristo, e, vendo desde logo o resultado desse trabalho! Eu jamais teria ousado fazer essas coisas no passado, mas agora, é ao contrário: é impossível deixar de fazê-lo. É como disseram os apóstolos depois de Pentecostes: “Como podemos deixar de falar sobre as coisas que vimos e ouvimos!" (…).

Estas notícias se divulgaram rapidamente, causando um grande impacto no meio religioso universitário. O “Fim de Semana de Duquesne”, como ficou mundialmente conhecido este retiro, tem sido geralmente aceito como o ponto de partida que deu origem à Renovação Carismática Católica, cuja abrangência estender-se-á, num curto período de tempo, por um grande número de países. A experiência inicial vivida nestas universidades, caracterizada por um reavivamento espiritual por meio da oração, da vida nova no Espírito, com a manifestação dos seus dons, tomará corpo, transpondo rapidamente o ambiente onde foi originada. Através das reuniões, seminários e encontros, em breve, aparecerão grupos de oração noutras universidades, paróquias, mosteiros, conventos, etc. Os testemunhos multiplicam-se, vindos dos mais variados grupos de pessoas: operários, ex-presidiários, professores, religiosos das mais diversas ordens.

Kevin e Dorothy Ranaghan ainda registram um aspecto pouco divulgado desta história inicial da Renovação Carismática: Nossa suspeita de que essa experiência de renovação, que agora estava espalhada, não era nova para os católicos americanos, foi confirmada, quando ouvimos notícias ou recebemos cartas de pessoas ou grupos de católicos ao redor do país. Da Flórida, Califórnia, Texas, Wisconsin, Massachusetts, tivemos notícias do trabalho calmo do Espírito Santo no decorrer dos anos. Portanto, embora os primeiros momentos da Renovação tenham se dado em torno do retiro de Duquesne e apesar de estarem os americanos igualmente presentes no seu nascimento em diversos outros países, seria falso atribuir a expansão da Renovação Carismática unicamente à sua influência. Como afirma Monique Hébrard, a Renovação Carismática “explodiu quase ao mesmo tempo em todos os cantos da terra e em todas as igrejas cristãs, sem que se saiba muito bem como é que o fogo se ateou”.

Para o Cardeal Suenens isto também despertou uma curiosidade, ou seja, “sem nenhum contato entre si, parece que o Espírito Santo suscitou em vários lugares do mundo experiências que, se não são iguais, certamente são semelhantes”.


Definindo

"A Renovação carismática é um acontecimento religioso que já não se pode desconhecer. Nascido na Igreja e para a Igreja, em poucos anos assumiu proporção tão expressiva que se estendeu ao mundo inteiro. Pretender definí-la é ao mesmo tempo fácil e difícil. Fácil, porque seus pontos fundamentais estão bem definidos; eles nada têm de complexos, a partir do momento em que são compreendidos nas suas linhas essenciais. Difícil, porque sua riqueza, como tudo o que está enraizado no Evangelho, na palavra divina, ultrapassa qualquer coisa que possa caber numa definição, por mais exata que possa ser". (Benigno Juanes SJ)

O que é a Renovação Carismática Católica

É a redescoberta experiencial do poder do Espírito Santo na vida dos cristãos, e a abertura à sua ação para viver o Evangelho em plenitude, para evangelizar com poder sobrenatural, sendo testemunhas de Cristo Ressuscitado (até suas últimas consequências), e contribuindo para renovar todas as formas de presença e de serviço de Cristo na Igreja e no mundo.

Observação importante sobre o Termo "Carismática": O uso do termo "carismático" é explicado pelas diversas expressões da ação do Espírito Santo, que são o que poderíamos chamar de "momentos fortes" de Sua manifestação. A Renovação "manifesta-se primeiro exteriormente, por um conjunto de reuniões de oração, seja de louvor e de aclamação de Deus, ou com a intenção de curar ou de libertar as pessoas, em um clima de alegria e inclusive de exaltação espiritual" (G. Thils).

Explicação da definição:

a) Redescoberta experiencial do poder do Espírito Santo e a abertura à Sua ação:

"É uma espécie de experiência espiritual, como uma graça de "desbloqueio" e de descobrimento místico, que tem como efeito radical a reatualização do batismo e da confirmação, como em um novo Pentecostes. É como se a vida cristã, vivida e mantida desde sempre, fosse objeto de uma súbita descoberta no impulso do Espírito Santo. Tal estado, sempre latente e avivado com facilidade, caracteriza-se por três elementos: conversão pessoal, reconhecimento de Jesus Cristo e nova abertura para a ação do Espírito Santo" (Gustavo Thils - Existencia y santidad en Jesucristo, Edic. Sígueme, Salamanca, 1987,54).

a.1) Conversão pessoal: A autenticidade da experiência do Espírito Santo e de seus dons não depende de uma análise dessa experiência em si, mas pode ser discernida por seus efeitos na vida das pessoas:

"De entrada, um dom incondicional da própria pessoa a cristo vivo, no sentimento de uma radical miséria de nossa vida; uma abertura ao Espírito Santo, através do qual age o senhor vivo; uma acolhida filial àquilo que Ele queira fazer em nós e por nós; uma oferenda confiada de nós mesmos à oração de irmãos cristãos visitados ou habitados pelo Espírito Santo. Então acontece uma coisa. Nada de um golpe, nada de automático. Mas as vidas mudam, ficam em paz e alegria, animadas por um novo gosto pela oração, sobretudo de louvor; por um novo gosto pela Palavra de Deus; por uma serena e diligente abertura ao próximo; uma vontade de sermos instrumentos poderosos para a Igreja e para o mundo, através dos carismas do Espírito Santo"(Palavras do grande teólogo Y. Congar) .

"A descoberta de nossa verdade - o nosso pecado está compreendido nela - impede que continuemos adormecidos na mediocridade. A leitura das Escrituras nos leva a esse radicalismo do Evangelho que ainda levamos tão pouco a sério. O louvor libera em nós uma confiança que nos empurra para a frente. Depois vem o exemplo dos irmãos: aqueles que deram um passo mais decisivo do que nós; aqueles que aceitaram sua morte como uma feliz renúncia; aqueles que se viram afastados das drogas, da prostituição, da ambição; aqueles que se libertaram de suas amarguras e da vida aborrecida que levavam. Vemos a força do Espírito Santo em ação na sua Igreja (...) Existe uma conversão de cada dia; e há momentos fortes de conversão, que nossa falta de fé torna cada vez mais necessários (...) A obra de regeneração alcança em nosso ser diferentes graus de profundidade, exigindo que prossigamos. A conversão cristã dá direito, sobretudo, a novas conversões, pois não existe santidade já adquirida. Nunca deixaremos de ter necessidade da intercessão dos irmãos "(Benigno Juanes SJ).

a.2) Reconhecimento de Jesus Cristo(como Senhor e Salvador pessoal): Efésios 1,3-14: Este hino resume, com vigor e clareza, a finalidade do Criador para cada homem: Reproduzir em nós mesmos, com o próprio esforço, e sobretudo com a ajuda do Espírito Santo, a conduta de Deus. Este chamado, que resume toda a história da Salvação, só pode ser respondido pelo homem que "anda no amor de Deus e do próximo" e vive na santidade, em Cristo, Seu Filho, que é o consumador de toda santidade.

"A Renovação Carismática Católica é profunda e essencialmente cristocêntrica: proclama a Jesus como Salvador e Senhor" (Declaração Pastoral sobre a Renovação Carismática, dos Bispos Norte -Americanos, de Março de 1984)

A Renovação Carismática proclama a Jesus como o Salvador. E não há outro a não ser Ele (Ato 4,12). Tudo o mais são instrumentos de Sua Salvação, recebendo Dele o poder, a missão e a Graça de cooperar na Sua obra Salvífica. Este anúncio opõe-se à influência de um novo pelagianismo sentido de maneira profunda no mundo, e que consiste na atuação, na prática, com a impressão de que o homem pode salvar a si mesmo por meio da ciência, da tecnologia, de métodos psicológicos de autorealização e outros meios meramente naturais. A salvação é uma obra sobrenatural, que só pode acontecer em Jesus Cristo, o único Salvador do homem todo e de todos os homens. E o Espírito Santo é que vem em auxílio à fraqueza humana trazendo primeiramente a convicção disto, para que o homem possa se colocar ao alcance da salvação trazida por Jesus Cristo.

A Renovação Carismática proclama a Jesus como Senhor, opondo-se ao individualismo que grassa o homem de hoje. "A Renovação Carismática reconhece que o erro fundamental e o desvio teórico e prático no reconhecimento do Senhorio de Jesus é a razão de fundo de uma convivência humana profunda e essencialmente viciada por todo tipo de injustiças"(Benigno Juanes SJ). "Como um movimento dentro da Igreja, a Renovação Carismática tem suas raízes no testemunho da tradição do Evangelho: Jesus é o Senhor, pelo poder do Espírito Santo, para a glória do Pai. A Renovação continua no seu propósito de assimilar aquele testemunho evangélico"(Declaração Pastoral sobre a Renovação Carismática, dos Bispos Norte-Americanos, de Março de 1984, no seu n.1). O reconhecimento de Jesus Cristo como Senhor não consiste apenas numa confissão de fé em Jesus cristo como o Senhor, mas "O senhorio de Cristo, dado em plenitude pelo pai a partir da ressurreição (Ato 2,36), deve ser uma realidade que envolva todo o indivíduo na totalidade de sua pessoa. Não deve existir área alguma que não esteja, de fato, submetida a esse senhorio amoroso de Jesus. A Ele corresponde de direito próprio, reinar na família, na comunidade, no mundo. Nada se deve subtrair a seu domínio, a seu reinado de paz, de amor, de entendimento e serviço mútuos. O senhorio de Jesus não nega a realidade, o valor e a relativa autonomia das realidades humanas. No entanto, envolvendo-o, elevando-o, colocando-o a serviço dos homens e para a glória de Deus, o senhorio de Jesus deve desfrutar de lugar privilegiado"(Benigno Juanes SJ).

a.3) Abertura para a ação do Espírito Santo:

A Renovação Carismática nos liga com a atuação do Espírito Santo na Igreja, o que é imprescindível na vida cristã. "A força da Renovação Carismática está em criar o constante Pentecostes que o Espírito Santo realiza na Igreja e em cada um de seus membros"(Documento do Encontro Episcopal latino-Americano, realizado em la ceja, Colômbia, Setembro de 1987) " A ação do Espírito Santo é total.

Queremos dizer que sua obra tende a nos assemelhar a Cristo, por meio da santificação para dentro e, para fora, pela efusão de sua força, que nos permite realizar o trabalho apostólico, colaborar em seu Reino até além de nossas forças. Esta dupla ação foi a obra característica do Espírito Santo em Pentecostes: santificá-los e equipá-los com seus carismas para que pudessem realizar a missão de evangelizar 'com poder' (At 1,5-8; 2,1ss.) "(S. Carrillo Alday, La Renovacion en el Espíritu Santo, Instituto de Teologia, México, 1984).

"A redescoberta do poder do Espírito Santo significa também a redescoberta dos seus Carismas. A Renovação Carismática está consciente de que esses dons gratuitos de Deus não foram privilégio da Igreja primitiva. Pertencem à vida normal da Igreja. Todo o seu valor está em serem dados para a construção da Igreja na caridade. (ICor 12-14). Não representam um fim em si, mas têm uma importância fundamental na edificação da Igreja com poder. Todos eles, até os que poderiam parecer mais insignificantes, devem ser apreciados como dons do Espírito Santo para contribuir poderosamente para a expansão e aprofundamento do Reino de Cristo. Por isso, precisamente nos nossos dias, eles são mais necessários neste mundo que nega o senhorio de Jesus. Eles, os Carismas, manifestam isso e ajudam a testemunhar que Jesus Cristo está vivo e atuante por intermédio do Espírito Santo"(Documento do Encontro Episcopal Latino-Americano, realizado e La ceja, Colômbia, em Setembro de 1987, n.31)

b) Para viver o Evangelho em plenitude:

A renovação Carismática tenta restituir ao Espírito Santo o mesmo papel que teve nos primeiros momentos da Igreja. Pelo poder do Espírito santo os primeiros cristãos podiam descobrir Jesus ressuscitado como Senhor e Salvador, viver uma fraternidade impressionante, viver em comum com desconhecidos, partilhar o pouco que tinham, amar os não amáveis, perdoar a ponto de dar "a outra face", suportar perseguições e até o martírio...Esse poder só tem origem na Graça do Espírito Santo. "Daí ser absolutamente necessário apelar à Graça, aceitá-la como um dom e fazer do Espírito Santo o protagonista principal de toda a Renovação e até dos compromissos mais árduos. Na Renovação Carismática trata-se de fazer vida de toda esta teologia"(P Villarroel, Vida Nueva, 1981).

A obra do espírito Santo, ao provocar esta corrente de graça, também age e faz com que se dê uma confissão de fé, pelo louvor, o testemunho, a ardorosa vida sacramental, a adesão à Palavra de Deus, o amor e o compromisso com o próximo, no Senhor, especialmente com os mais necessitados, de muitas e diferentes maneiras; como faz que se verifique também a obediência àqueles que Deus chamou à Igreja para nos dirigir e discernir os caminhos do Espírito Santo.

c) Para evangelizar com poder sobrenatural:

Hoje, podemos encontrar em diversos setores da sociedade, inclusive nos meio de cristãos, um materialismo que tem desprezado os valores cristãos e transformado o homem em escravo de ídolos como o dinheiro, o sexo e o poder. E o "secularismo", que relega Deus à condição de apenas um "ente" a mais, sem preocupar-se com sua existência, e acreditando que pode construir e viver eficazmente sua vida, encontrando a felicidade e a paz à margem Dele.

De fato, esta é a tentação e o pecado de nossas origens: Ignorar a existência e a intervenção de Deus na vida e no mundo, crendo ser capaz de construir algo de bom por si mesmo. O secularismo, junto com o materialismo têm como consequência o desprezo à vida eterna e a todas as realidades sobrenaturais a serem vividas na vida temporal. A Renovação Carismática, ao usar os dons e carismas do Espírito Santo, levando a experimentar a verdade de que Deus existe e age sobrenaturalmente em todos os aspectos da vida humana, vai contra o materialismo e secularismo que têm arrastado o homem do bem Supremo e do fim último de sua vida.

d) Sendo testemunhas de Cristo Ressuscitado:

Tomar Atos 2, 29-33. No dia de Pentecostes, após o derramamento do Espírito Santo, Pedro anunciou a Ressurreição de Cristo e o derramamento do Espírito santo como obras associadas: "Exaltado pela direita de Deus, havendo recebido do Pai o Espírito santo prometido, derramou-o como vós vedes e ouvirdes. E São Paulo que teve a experiência com Cristo Ressuscitado pregou: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a nossa fé...E se Cristo não ressuscitou, é inútil a vossa fé, e ainda estais em vossos pecados...Se é só para esta vida que temos colocado a nossa esperança em cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de lástima"(I Cor 15,14.17.19). A RCC leva o homem a EXPERIMENTAR a verdade de que Cristo ressuscitou, e disto resulta uma transformação de valores e vida concreta que o torna testemunha viva desta verdade.

e) Contribuindo para renovar todas as formas de presença e de serviço de Cristo na Igreja e no mundo: O fato de a Renovação Carismática destacar a ação do espírito santo não diminui a dimensão cristológica da vida cristã. Jesus é será sempre o centro de toda espiritualidade sadia, dado pelo Pai (Rom 8,29).

A obra do Espírito santo é precisamente nos levar até Jesus, inserir-nos Nele, fazer-nos acreditar Nele e nos incentivar a trabalhar como Ele, no Reino que o Pai Lhe deu como prêmio, no momento de sua morte (...) .

Segundo a expressão de São Paulo, todo cristão é um embaixador de Cristo (II Cor 5,20), ou um cooperador de sua obra (I Cor 3,5-9)"(Benigno Juanes). Para isto existe a Renovação carismática, para levar mais e mais homens a viver com plena consciência, na Igreja e no mundo, o seu compromisso batismal, saindo de nós mesmos para nos entregarmos a Cristo, na pessoa dos nossos irmãos. Aqui entra a dimensão da abertura para o próximo, para todos os que precisam de nossa ajuda, em especial aqueles a quem o Senhor privilegiou com sua atenção durante sua vida, coisa que agora certamente deseja continuar fazendo por nosso intermédio: servir aos pobres, os oprimidos, os doentes e os pecadores (Ver Lc 4,18-19 e Jo 14,12).


Expansão

A Renovação Carismática Católica chama a atenção pelo grande número de integrantes. Vejamos como foi seu crescimento, que tamanho assume e como está organizada. O fato de muitos canadenses estudarem em Notre Dame e outras universidades da Região dos Lagos, fez com que a Renovação Carismática fosse levada ao Canadá também em 1967, conhecendo aí um rápido crescimento. Já em 1968 foi realizado nos EUA o primeiro congresso nacional, com 100 participantes; em 1969, 300; em 1970, 1.300; em junho de 1971, 5.000 e em 1972, 12.000.

Em 1973, aconteceu o primeiro congresso internacional em South-Bend, Indiana, contando com 25.000 participantes e outro em Roma, com 120 líderes de 34 países; em 1974, o segundo Congresso Internacional, em South Bend, reuniu 30.000 participantes vindos de 35 países, estando presentes 700 padres e 15 bispos. Em Roma houve, em 1974, um segundo Congresso, com 220 líderes, vindos de 50 diferentes países. Foi uma preparação para o terceiro Congresso Internacional, realizado de 16 a 19 de maio de 1975, que reuniu 10.000 participantes provenientes de 54 países.

Entre os anos de 1970 – 80 a Renovação já estava presente em outros países de língua inglesa (Inglaterra, 1970-71; Austrália, 1970; Nova Zelândia, 1971) bem como da Europa Ocidental (França 1971-72; Bélgica, 1972; Alemanha, 1972; Itália, 1973; Espanha 1973-74; Portugal, 1974). Na Europa Oriental, a Renovação chegou apenas na Polônia (1976-77), já na América Latina, na maioria dos países, ela chegou entre 1970-74, quando também apareceu em países da Ásia, como Coréia (1971) e Índia (1972). Foi durante esta década que apareceram muitas comunidades carismáticas. Os países onde elas inicialmente floresceram foram os Estados Unidos, França e Austrália. Delas as mais influentes foram: Word of God, Ann Harbor, Michigan (EUA); People of Praise, South Bend, Indiana (EUA); Aleluia, Augusta, Geórgia (EUA); Emmanuel, Brisbane (Austrália); Emmanuel, Paris (França); Chemim Neuf, Lyon (França); e Leão de Judá (mais tarde chamada de Beatitudes), Cordes (França). Essas comunidades tornaram-se responsáveis por organizarem muitos dos serviços da Renovação, tais como retiros, congressos e revistas de divulgação, onde destacam-se: a New Covenant (EUA), Il Est Vivant (França) e Feu et Lumière (França).

Entre 1980-90 a Renovação Carismática ampliará suas relações com a hierarquia, durante este período haverá um esforço de aproximação entre os diversos países e a consolidação de organizações nacionais e internacionais. Na década seguinte, marcada pela mudança de regime político do leste europeu, surgiram muitos grupos de oração nos países que compunham a antiga União Soviética. Também na África, Ásia e América Latina, muitos países têm registrado um crescimento da Renovação. Filipinas, Brasil e México estão entre os países com o maior número de participantes e grupos de oração.

1- Organização

Desde o princípio, os integrantes da Renovação, para melhor promover suas atividades, sentiram a necessidade de organizarem-se, contando para isto com equipes de âmbito local, regional, nacional e internacional. Essas equipes têm como função promover uma articulação entre suas coordenações e garantir sua unidade.

O Grupo de Oração é a base da estrutura da Renovação Carismática. Organizados geralmente nas paróquias e liderados por leigos, eles são formados por um número variado de pessoas, em reuniões que acontecem semanalmente. Muitos dos grupos de oração deram origem às comunidades carismáticas, onde os laços de vida entre seus integrantes são mais estreitos. Estas comunidades têm várias estruturas, vocações, formas e graus de dedicação. Algumas delas foram muito importantes para o desenvolvimento e propagação da Renovação. Além de encontros nos grupos de oração, os membros da Renovação Carismática se reúnem com alguma freqüência em encontros de oração, que ocorrem nos fins de semana, na forma de retiros visando aprofundar o conhecimento de Renovação e preparar novos líderes. Podem ser organizados em âmbito paroquial, diocesano, etc. Igualmente, em média uma vez por ano, ocorrem em cada Estado ou Diocese os Cenáculos que são grandes encontros que reúnem milhares de pessoas em estádios de futebol, ou ginásios esportivos, onde realizam-se dias de oração semelhantes aos que ocorrem nos grupos de oração. Assim, a Renovação criou uma organização interna que lhe dá um elevado grau de maleabilidade: por um lado, cada grupo de oração goza de grande autonomia, podendo realizar suas reuniões conforme as necessidades específicas de seus membros; por outro, as equipes de coordenação, atuando por meio das atividades auxiliares, garantem à Renovação Carismática uma linha comum.

Em Roma, a Renovação conta com um Escritório Internacional, que teve como origem um centro de comunicação que surgiu em Ann Arbor, Michigan. Esta cidade, tornou-se um centro de referência no início da Renovação Carismática nos EUA e como relata Ralph Martin: Logo começamos a receber correspondência e visitantes do mundo inteiro. Um centro de comunicação internacional informal cresceu e acabou sendo formalizado no início da década de 70, sendo chamado de ICO (“International Communication Office” – Escritório Internacional de Comunicação).

Em 1976, o Cardeal Suenens convidou Ralph Martin para mudar-se para Bruxelas na Bélgica. Indo para lá levou também o ICO, tornando-se o seu primeiro presidente. Em 1978, o escritório passou a ser formado por nove integrantes, que representavam os cinco continentes. Ao final deste ano Pe. Tom Forrest passa ser seu novo presidente e em 1981 o ICO foi transferido para Roma, passando a ser chamado de ICCRO (“International Catholic Charismatic Renewal Office” – Escritório Internacional da Renovação Carismática), tendo em sua presidência o Pe. Fio Mascarenhas da Índia (1981-87), que foi sucedido pelo Fr. Ken Metz dos Estados Unidos (1987-94).

Através do ICCRO a Renovação sentiu a necessidade de solicitar à Santa Sé um reconhecimento oficial. Após um lento e rigoroso trabalho, realizado pelos membros do ICCRO e com o apoio de alguns bispos e cardeais, foram apresentados os “Estatutos do ICCRO”, que depois de analisados por teólogos e canonistas do Vaticano, passaram por alguns ajustes e foram aprovados em 8 de julho de 1993 com o titulo de “Estatutos ICCRS” (“International Catholic Charismatic Renewal Service” – Serviço Internacional da Renovação Carismática Católica)”, onde são detalhados sua natureza, objetivos e estrutura.

Em 14 de setembro de 1993, através do Pontifício Conselho para os Leigos foi expedido o decreto de reconhecimento do ICCRS. Do ano de 1994 até 2000, o ICCRS foi presidido por Charles Whitehead (Inglaterra) e a partir de 2000 tem à sua frente Allan Panozza (Austrália). Atualmente o ICCRS é presidido por Michele Moran (Ingraterra). O ICCRS reúne seus membros com freqüência para discutir e planejar a Renovação em âmbito mundial. Realiza retiros e encontros internacionais, mantém um site na internet e publica o "Boletim do ICCRS", com notícias e material de formação em inglês, francês, italiano, espanhol e português.

Outra organização internacional importante é a CFCCCF ("Catholic Fraternity of Charismatic Covenant Communities and Fellowships" - Fraternidade Católica das Comunidades de Aliança e Vida). Composta por mais de 50 comunidades espalhadas pelo mundo, teve em novembro de 1990, seus Estatutos reconhecidos pelo Pontifício Conselho para os Leigos.

Na América Latina, sediado atualmente na cidade do México, há o CONCCLAT (Conselho Carismático Católico Latino Americano), um organismo continental criado em 1972 que tem como objetivo promover o intercâmbio e refletir sobre a experiência da Renovação Carismática nos ambientes culturais católicos latino-americanos. Através do CONCCLAT acontece a cada dois anos o ECCLA (Encontro Carismático Católico Latino Americano). Ao mesmo tempo em que se estruturava no plano internacional, a Renovação também se organizava em âmbito nacional.


RCC no Brasil

No Brasil a Renovação Carismática teve origem na cidade de Campinas, SP, através dos padres Haroldo Joseph Rahm e Eduardo Dougherty. Os rumos que a Renovação Carismática tomará a partir de Campinas serão diversos, expandindo-se rapidamente pela maioria dos Estados brasileiros. Entre algumas informações disponíveis encontramos as de Dom Cipriano Chagas que registra:

Em 1970 e 71 iniciou-se a Renovação em Telêmaco Borba, no Paraná, com Pe. Daniel Kiakarski, que a conhecera nos Estados Unidos também em 1969.

Em 1972 e 1973 Pe. Eduardo, de novo no Brasil, deu vários retiros e iniciou grupos de oração. Assim foi, por exemplo, em Belo Horizonte, em 1972, com um grupo pequeno de 8 ou 9 pessoas.

Em janeiro de 1973 o Pe. George Kosicki, CSB, que havia muito participava ativamente da Renovação nos Estados Unidos, veio a Goiânia para um retiro carismático de uma semana. A ele compareceram D. Matias Schmidt, atual bispo de Rui Barbosa, na Bahia, e vários padres e religiosas, que iriam iniciar grupos de oração em Anápolis, Brasília, Santarém, Jataí, etc.

Em 1973, perto de Miranda, no Mato Grosso, um pequeno grupo começou a ler o livro Sereis Batizados no Espírito e a rezar pedindo o dom do Espírito. Um mês mais tarde veio a eles o Pe. Clemente Krug, redentorista, que conhecera a Renovação em Convent Station, New Jersey; orando com eles, receberam o “batismo no Espírito” e o dom de línguas.

Em geral, pois, pode-se dizer que os grupos de oração surgidos em inúmeras cidades do Brasil tiveram sua origem seja nas “Experiências de Oração no Espírito Santo” do Pe. Haroldo Rahm, SJ, seja nos retiros dados pelos padres Eduardo Dougherty, SJ e George Kosicki, CSB.

Em vista da extensão que tomava a Renovação no Brasil, o Pe. Eduardo Dougherty, sentindo a necessidade de uma melhor organização, preparou com o Pe. Haroldo Rahm e Irmã Juliette Schuckenbrock, CSC, um encontro de fim de semana em Campinas, que foi o I Congresso Nacional da Renovação Carismática no Brasil em meados de 1973, ao qual compareceram cerca de 50 líderes, para discernir a obra do Espírito Santo no Brasil.

Em janeiro de 1974 foi realizado o II Congresso Nacional da Renovação Carismática, comparecendo lideres de Mato Grosso, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro, Santos, São Paulo, etc.

Em outras regiões a Renovação Carismática começa a crescer, a partir de 1974: no Norte a diocese de Santarém com Frei Paulo, em Anápolis, no Centro Oeste, com Frei João Batista Vogel, no Sul de Minas, com Mons. Mauro Tommasini na Aquidiocese de Pouso Alegre. Também colaboram como divulgadores: Pe. Schuster, Dr. Jonas e Sra. Imaculada Petinnatti, Peter e Ingrid Orglmeister, D. Cipriano Chagas, Pe. Alírio Pedrini, Frei Antônio, Ir. Tarsila, Maria Lamego, Ir. Stelita.

No início, a Renovação atingiu os líderes já engajados em movimentos como Cursilho, Encontros de Juventude, TLC, etc, e foi se ampliando gradativamente como uma nova “onda” de evangelização com identidade própria. Em 1972, Pe. Haroldo escreve o livro Sereis batizados no Espírito, onde explica o que vem a ser o “Pentecostalismo Católico”. Sendo uma das primeiras obras publicadas no país sobre o movimento, trazia orientações para a realização dos retiros de “Experiência de Oração no Espírito Santo”, que muito colaboraram para o surgimento de vários grupos de oração. Para B. Carranza, o livro representou uma alavanca para a difusão da Renovação Carismática, do mesmo modo como o foi, nos EUA, o livro A cruz e o punhal. Além disso, tendo recebido o Imprimatur de Dom Antônio Maria Alves de Siqueira, bispo de Campinas na época, significou a legitimação da Renovação Carismática Católica para seu crescimento.

Pe. Haroldo foi o responsável em divulgar a Renovação para muitos dos que viriam a se tornar suas lideranças. A adesão de Padre Jonas Abib, logo no início deu um grande impulso para a Renovação. Pe. Jonas Abib assim relata como veio a conhecê-la, através do Pe. Haroldo, durante um período em que passava por dificuldades em seu ministério, em Lorena, São Paulo:

Padre Haroldo veio no dia 2 de novembro de 1971. Falou-nos a respeito do que Deus estava fazendo no mundo por meio da Renovação Carismática Católica. Explicou-nos sobre a Efusão do Espírito Santo; o que eram os dons do Espírito Santo (...).

Realmente não entendi bem o que era a Renovação Carismática Católica; também não entendi o que era Efusão do Espírito nem mesmo os Dons. Porém, desejei do fundo do coração. Entendi que era o que me faltava! Houve uma missa. No final, Padre Haroldo, ainda na sacristia, disse a nós, padres, que, se quiséssemos, ele iria impor as mãos sobre cada um, pedindo a Efusão do Espírito Santo. Ficamos sem jeito; mas pior seria dizer que não aceitamos! (...).

O que aconteceu com os outros eu não sei; sei o que aconteceu comigo. (...) naquela noite, comecei a orar como nunca tinha orado antes. Nem era ainda a oração em línguas; o que acontecia era que a oração vinha de dentro. (...) Eu não saberia explicar. O que sabia é que antes me faltava alguma coisa, que eu pensava ser a fé; porém, o que faltava agora não faltava mais. O vazio que existia estava inteiramente preenchido.

(...) um mês e meio depois, já no começo de 1972, fui a Campinas, em São Paulo, com dez jovens (...). Tivemos a oportunidade de fazer uma “Experiência de Oração” com Padre Haroldo, na Vila Brandina. Lá comecei a entender o que era a Renovação Carismática Católica, a Efusão do Espírito Santo e seus Dons. Melhor ainda: entendi o que tinha acontecido comigo. Naquele mesmo ano estávamos começando as Experiências de Oração no Espírito Santo, em Lorena.

A partir de 1980, a Renovação Carismática consolidou-se institucionalmente, espalhando-se por todo o território nacional, vindo a ocupar um espaço significativo na mídia, seja como objeto de notícias, seja como usuária dos meios de comunicação social. Em 1980, Pe. Eduardo Dougherty fundou a Associação do Senhor Jesus (ASJ). Partindo da venda de material religioso, tal como livros de formação e de cânticos, tendo em vista atingir a realização de programas de TV. Logo em seguida foi criado o programa "Anunciamos Jesus", que em 1986, já cobria através de três redes de TV, 60% do território nacional. A partir de 1990, a ASJ fundou o Centro de Produções Século XXI, que possui três grandes estúdios de TV, na cidade de Valinhos, São Paulo. Atualmente, possui um sistema televisivo próprio com objetivo de, em médio prazo, estar com retransmissoras em todas as regiões do Brasil. Também se destaca nos meios de comunicação a Comunidade Canção Nova. Iniciada em 1974 na cidade de Lorena, a Comunidade adquiriu em 1980, em Cachoeira Paulista, uma Rádio e mais adiante, em 1989, conseguiu uma concessão de TV. Através da Fundação João Paulo II, a Rede Canção Nova TV é o canal católico que mais cresce no Brasil, possui retransmissoras em todas as Regiões do país, estando também presente na Itália e Portugal.

Atualmente, a Renovação Carismática encontra-se presente em todos os Estados e também no Distrito Federal, com coordenações (arqui) diocesanas organizadas e cadastradas junto ao Escritório Nacional.