ARAUTOS DA SALVAÇÃO - Ai de mim se não evangelizar

Lectio Divina - Aula 03

Os monges

São João Crisóstomo indignava-se quando diziam que ler a Escritura é coisa de monge. “Não, dizia, é próprio de todos os que se vangloriam de ser cristãos”. Não obstante a objeção de seus interlocutores, a Bíblia estava se convertendo no livro do monge, e o monge no homem da Bíblia.

Pacômio, Orsiésio, Basílio, Evágrio Pôntico, todos os mestres do monaquismo recomendavam encarecidamente a “Lectio Divina”. Cassiano, o grande divulgador da espiritualidade monástica no Ocidente, insiste, seguindo Orígenes, no grande poder de renovação espiritual contigo na leitura direta da Bíblia, não na de seus comentaristas.

Assim, nos séculos V-VI, a “Lectio Divina”, já institucionalizada nos mosteiros, ocupa um lugar determinado no horário das comunidades. Segundo todas as regras da época, dedicavam os monges à leitura, nos dias de trabalho, um mínimo de duas horas e um máximo de três horas.

Os monges da Idade Média permaneceram fiéis à prática da “Lectio”, pelo menos até certo ponto, pois, à vista de alguns textos, tem-se a impressão de que a “Lectio Divina” ia desvirtuando-se pelos menos em certos ambientes.

Decadência

No fim do século XII, idade de ouro da espiritualidade medieval, a expressão tornou-se cada vez mais rara; somente a usam alguns escritores místicos. Na época de devoção moderna, os espirituais encontram uma forma de oração que a suplanta: a oração mental, exercício independente do que mais ainda se chamará leitura espiritual. Nesta época de transição, a leitura se converte em um exercício espiritual autônomo não orientado pela oração. E logo vai-se afastando também a Escritura. Produz-se a distinção clara entre estudo, leitura intelectual ou teológica, e leitura espiritual, exercício de piedade sem o rigor exigido na “Lectio Divina” e, sobretudo, porque esta diferença se nutre melhor de hagiografia popular, manuais de vida cristã e obras de meditação. A Escritura recupera, esporadicamente, um lugar preferencial somente em certos autores, como São João Eudes e em certos ambientes religiosos.

A “Lectio Divina” da Bíblia não era fomentada na vida religiosa. Era também o infeliz efeito da contra-reforma na vida da Igreja. Santa Teresinha, por exemplo, não tinha acesso ao texto integral do Antigo Testamento. Insistia-se mais na leitura espiritual. O medo do protestantismo fez perder o contato com a fonte.