ARAUTOS DA SALVAÇÃO - Ai de mim se não evangelizar

Lectio Divina - Aula 04

Restauração

Os livros que contribuíram especialmente para ressuscitar a expressão “Lectio Divina” em pleno século XX foram o do doutor Denis Gorce, “Des Origenes du Cenobitisme à Saint Menoite et à Casodore”, Paris 1925, e  o de Dom Usmer Berlière, “L’ascese Bénédictine Des Origenes à la fin du XII siècle”, Paris, Maredsous, 1927. Mas a fórmula não se definiu verdadeiramente nesta década de 1940-1950, como o desenrolar do movimento litúrgico dentro e fora dos ambientes monásticos. É muito significativa uma coleção de estudos sobre a Bíblia, que empenhou em publicar a editora du Cerf, em 1946, com o título “Lectio Divina”. Finalmente, o Concílio Vaticano II, em seu decreto Dei Verbum 25, ratificou e promoveu ainda mais, com todo o peso de sua autoridade, a restauração da “Lectio Divina”. O Concílio exorta igualmente, com ardor e insistência, a todos os fiéis cristãos, especialmente aos religiosos, que, pela frequente leitura das divinas Escrituras, alcancem esse bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo (Fil 3,8). Porquanto “ignorar as Escrituras é ignorar Cristo” (São Jerônimo, Cómm. In Is., pról.).

De bem grado, pois vão ao próprio texto sagrado, que pela Sagrada Liturgia, repleta da divina palavra, quer pela piedosa leitura, quer por cursos apropriados e outros meios que, com a aprovação e o empenho dos Pastores da Igreja, hoje em dia louvavelmente se difundem por toda parte. Lembrem-se porém, que a leitura da Sagrada Escritura deve ser acompanhada pela oração, afim de que se estabeleça um colóquio entre Deus e o homem. Pois, “com ele falamos quando rezamos; a ele ouvimos, quando lemos os divinos oráculos”. E, no decreto Perfectae Caritatis, repete o Concílio referindo-se aos religiosos: “Tenham todos os dias em mãos a Sagrada Escritura, para aprenderam, pela leitura e meditação dos divinos textos, ‘a ciência eminente de Jesus Cristo’” (Fil 3,8).

Note-se que no texto anterior falava o Concílio de leitura assídua da Escritura; e, em último, da leitura diária.

Sistematização

A sistematização da “Lectio Divina” em quatro degraus veio só no século XII. Por volta do ano 1150, Guido, um monge cartuxo, escreveu um livrinho chamado: “A escada dos monges”. Ele introduz os quatro degraus.

“Um dia, ocupado no trabalho manual, comecei a pensar no exercício espiritual do homem. E eis que de repente, enquanto refletia, apresentaram-se a meu espírito quatro degraus: a leitura, a meditação, a oração e a contemplação”.

Esta é a escada dos monges, que os eleva da terra ao céu. Embora dividida em poucos degraus, ela é de imenso e incrível comprimento, com a porta inferior apoiada na terra, enquanto a superior penetra as nuvens e perscruta os segredos do céu (cf. Gn 28,12). Estes degraus, assim como são diversos em nome e número, também se distinguem pela ordem valor.

Se alguém examina diligentemente suas propriedades e funções, o que produz cada uma delas para nós, e como diferem e se hierarquizam entre si, achará pequeno e fácil por sua utilidade e doçura todo o trabalho e esforço que lhes dedicar. Na descrição dos quatro degraus. Guido sistetiza a tradição que vinha de longe e a transforma em instrumento de leitura para servir de instrução aos jovens que se iniciavam na vida monástica.

No século XII, os Mendicantes fizeram da “Lectio Divina” fonte inspiradora do seu movimento renovador, como transparece claramente na vida e nos escritos dos primeiros franciscanos, dominicanos, servitas, carmelitas e outros.