ARAUTOS DA SALVAÇÃO - Ai de mim se não evangelizar

Lectio Divina - Aula 09

FRUTOS DA “LECTIO DIVINA”

 

Muitos e muito saborosos são os frutos da “Lectio Divina”. Segundo São Bento, conduz-nos à perfeição; segundo São Bernardo, infunde-nos sabedoria; segundo São Ferreolo, cria o fervor espiritual; segundo Bernardo Ayglier, dissipa a cegueira da mente, ilumina o entendimento, sana a debilidade do espírito, sacia a fome da alma, produz a compunção (contrição) do coração... A lista, sem dúvida alguma, poderia alargar-se facilmente. Veremos somente alguns dos frutos.

1. Uma mentalidade bíblica

Pode-se dizer, em primeiro lugar, que o contato pessoal, assíduo e profundo com a Palavra Deus cria no leitor o que se tem chamado uma “mentalidade bíblica”. As idéias, as expressões, as imagens da Escritura se convertem cada vez mais em seu patrimônio espiritual. Sua fé nutre-se das verdades da Bíblia; sua vida moral ajusta-se aos preceitos, diretrizes e modelos contidos na Bíblia; suas idéias e imaginações, tantas vezes inúteis e perigosas, são substituídas com grande vantagem pelas idéias e imagens da Bíblia, pelas imagens de Deus, de Jesus, dos amigos de Deus; acostuma-se a pensar naturalmente nas realidades da salvação, eleva-se com facilidade a elas. Pensa e fala com a Bíblia e como a Bíblia. A imitação de Cristo acha na Bíblia um arsenal para vencer a tentação. A Bíblia passa a formar parte integrante de sua personalidade, ou melhor dizendo, esta termina por ser transformada pela leitura da Bíblia.

2. Uma total renovação

A “Lectio” transforma-nos radicalmente. Que a “Lectio” representa na vida espiritual um papel purificador é uma afirmação constante dos Padres e autores monásticos. Que a Bíblia nos ajuda eficazmente a prosseguir com esperança o combate espiritual é o que afirma o próprio São Paulo: “Ora tudo quanto outrora foi escrito foi para a nossa instrução, a fim de que, pela perseverança e pela consolação que dão as Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15,4). A este propósito escrevia São Basílio de Cesárea: “Como tens o consolo da Sagrada Escritura, não terás necessidade de mim nem de nada para estimular o justo, pois basta-te possuir o consolo do Espírito Santo que é o teu guia para o bem” (Ep 283). A “Lectio”, com efeito, edifica, constrói a alma, porque o homem é o que lê. O “homem novo”, que nos empenhamos em ser no batismo, chega, assim, à maturidade.

Todos os que fascinados pela Palavra de Deus, entram na escola desta Palavra e perseveram nela, realizam o famoso tema de Orígenes: “Não podes oferecer a Deus algo de tua mente ou de tua palavra, se primeiro não concebes em teu coração o que foi escrito” (Hom. 13 In Ex., 3). Que quer dizer com isto Palavra? Que para ser interlocutores válidos de Deus é necessário que a Escritura esteja enraizada em nós, que a Escritura se tenha convertido em nossa própria substância, ou mesmo o que Cristo, Palavra de Deus, se tenha formado em nós. Não é esta a verdadeira meta da leitura divina como todo o conjunto de elementos que integram a vida cristã? Conceber a Palavra de Deus no coração!” A palavra salvadora, acolhida nas devidas condições, forma Cristo em nós, faz-nos, de verdade, cristãos.

3. Uma piedade objetiva

A “Lectio Divina” confere à piedade um caráter objetivo. Longe de basear-se em imaginações e sentimentalismos inconsistentes, edifica-se sobre acontecimentos, modelos e mistérios reais com que o cristão procura identificar-se. Centra-se em Deus, ou mais exatamente, em Cristo e na Santíssima Trindade.

4. Uma vida de Oração

A leitura divina favorece e vivifica a vida de oração. A interpretação das coisas visíveis e invisíveis, da vida e da história humana, “do ponto de vista de Deus”, que procura na leitura da Bíblia o conhecimento do desígnio que consiste no desejo de comunicar-se ao homem,unir-se a ele, prolongar até ele a comunicação da vida que constitui o mistério íntimo de Deus, produz na alma uma grande paz. O leitor crente e assíduo das Escrituras sabe, com certeza inquebrantável, que alguém pensa nele, que alguém sai ao seu encontro, que alguém está com ele. Sua alma sente-se fortalecida como a presença de um Amigo. Tudo isto fomenta uma vida de união consciente, intensa com Deus.

5. Uma experiência de Deus

A “Lectio Divina’, praticada com fidelidade, produz a experiência de Deus. Experiência significa “a graça da oração íntima”, o “afeto da divina graça” de que fala São Bento, o saborear as realidades divinas, como ensina constantemente a tradição patrística. É certo sentimento de estar unido a Deus por meio de Cristo na oração.

A oração viva e verdadeira, que brota no contato com a Palavra de Deus, é um de seus maiores frutos. O diálogo, a união com Deus, que é verdadeiramente divina e humana. Deus, falando em nossa alma, no modo humano, nos tem buscando e nós o temos encontrado; e, ao encontrarmos Deus, nós o temos encontrado no mistério de sua Palavra.

6. Uma grande felicidade

O salmo 1 nos diz claramente: “Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, Não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores; Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite”.

Deus não somente diz na “Lectio” como sermos felizes, mas que a mesma é a nossa felicidade. São Jerônimo, mestre indiscutível em tudo o que se refere à “leitura divina”, tem páginas belíssimas sobre o tema. Conhecia por experiência as delícias escondidas nas Escrituras para aqueles que sabem descobri-las. “Eu te pergunto irmão caríssimo’ – escreve a São Paulino de Nola – “viver entre estas coisas, meditá-las não saber nada fora delas, não te parece que é ter aqui na terra uma morada do reino celeste?