FRUTOS DA “LECTIO DIVINA”
Muitos e muito saborosos são os frutos da “Lectio
Divina”. Segundo São Bento, conduz-nos à perfeição; segundo São Bernardo,
infunde-nos sabedoria; segundo São Ferreolo, cria o fervor espiritual; segundo
Bernardo Ayglier, dissipa a cegueira da mente, ilumina o entendimento, sana a
debilidade do espírito, sacia a fome da alma, produz a compunção (contrição) do
coração... A lista, sem dúvida alguma, poderia alargar-se facilmente. Veremos
somente alguns dos frutos.
1. Uma
mentalidade bíblica
Pode-se dizer, em primeiro lugar, que o contato pessoal,
assíduo e profundo com a Palavra Deus cria no leitor o que se tem chamado uma
“mentalidade bíblica”. As idéias, as expressões, as imagens da Escritura se
convertem cada vez mais em seu patrimônio espiritual. Sua fé nutre-se das
verdades da Bíblia; sua vida moral ajusta-se aos preceitos, diretrizes e
modelos contidos na Bíblia; suas idéias e imaginações, tantas vezes inúteis e
perigosas, são substituídas com grande vantagem pelas idéias e imagens da
Bíblia, pelas imagens de Deus, de Jesus, dos amigos de Deus; acostuma-se a
pensar naturalmente nas realidades da salvação, eleva-se com facilidade a elas.
Pensa e fala com a Bíblia e como a Bíblia. A imitação de Cristo acha na Bíblia
um arsenal para vencer a tentação. A Bíblia passa a formar parte integrante de
sua personalidade, ou melhor dizendo, esta termina por ser transformada pela
leitura da Bíblia.
2. Uma total
renovação
A “Lectio” transforma-nos radicalmente. Que a “Lectio”
representa na vida espiritual um papel purificador é uma afirmação constante
dos Padres e autores monásticos. Que a Bíblia nos ajuda eficazmente a
prosseguir com esperança o combate espiritual é o que afirma o próprio São
Paulo: “Ora tudo quanto outrora foi
escrito foi para a nossa instrução, a fim de que, pela perseverança e pela
consolação que dão as Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15,4). A este propósito escrevia São Basílio de Cesárea: “Como tens o consolo da Sagrada Escritura,
não terás necessidade de mim nem de nada para estimular o justo, pois basta-te
possuir o consolo do Espírito Santo que é o teu guia para o bem” (Ep 283). A “Lectio”, com efeito,
edifica, constrói a alma, porque o homem é o que lê. O “homem novo”, que nos
empenhamos em ser no batismo, chega, assim, à maturidade.
Todos os que fascinados pela Palavra de Deus, entram na
escola desta Palavra e perseveram nela, realizam o famoso tema de Orígenes: “Não podes oferecer a Deus algo de tua mente
ou de tua palavra, se primeiro não concebes em teu coração o que foi escrito”
(Hom. 13 In Ex., 3). Que quer dizer
com isto Palavra? Que para ser interlocutores válidos de Deus é necessário que
a Escritura esteja enraizada em nós, que a Escritura se tenha convertido em
nossa própria substância, ou mesmo o que Cristo, Palavra de Deus, se tenha
formado em nós. Não é esta a verdadeira meta da leitura divina como todo o
conjunto de elementos que integram a vida cristã? Conceber a Palavra de Deus no
coração!” A palavra salvadora, acolhida nas devidas condições, forma Cristo em
nós, faz-nos, de verdade, cristãos.
3. Uma piedade
objetiva
A “Lectio Divina” confere à piedade um caráter objetivo.
Longe de basear-se em imaginações e sentimentalismos inconsistentes, edifica-se
sobre acontecimentos, modelos e mistérios reais com que o cristão procura
identificar-se. Centra-se em Deus, ou mais exatamente, em Cristo e na
Santíssima Trindade.
4. Uma vida de
Oração
A leitura divina favorece e vivifica a vida de oração. A
interpretação das coisas visíveis e invisíveis, da vida e da história humana,
“do ponto de vista de Deus”, que procura na leitura da Bíblia o conhecimento do
desígnio que consiste no desejo de comunicar-se ao homem,unir-se a ele,
prolongar até ele a comunicação da vida que constitui o mistério íntimo de
Deus, produz na alma uma grande paz. O leitor crente e assíduo das Escrituras
sabe, com certeza inquebrantável, que alguém pensa nele, que alguém sai ao seu
encontro, que alguém está com ele. Sua alma sente-se fortalecida como a
presença de um Amigo. Tudo isto fomenta uma vida de união consciente, intensa
com Deus.
5. Uma
experiência de Deus
A “Lectio Divina’, praticada com fidelidade, produz a
experiência de Deus. Experiência significa “a graça da oração íntima”, o “afeto
da divina graça” de que fala São Bento, o saborear as realidades divinas, como
ensina constantemente a tradição patrística. É certo sentimento de estar unido
a Deus por meio de Cristo na oração.
A oração viva e verdadeira, que brota no contato com a
Palavra de Deus, é um de seus maiores frutos. O diálogo, a união com Deus, que
é verdadeiramente divina e humana. Deus, falando em nossa alma, no modo humano,
nos tem buscando e nós o temos encontrado; e, ao encontrarmos Deus, nós o temos
encontrado no mistério de sua Palavra.
6. Uma grande
felicidade
O salmo 1 nos diz claramente: “Feliz o homem que não procede conforme o conselho dos ímpios, Não trilha o caminho dos pecadores, nem se assenta entre os escarnecedores; Feliz aquele que se compraz no serviço do Senhor e medita sua lei dia e noite”.
Deus não somente diz na “Lectio” como sermos felizes, mas
que a mesma é a nossa felicidade. São Jerônimo, mestre indiscutível em tudo o
que se refere à “leitura divina”, tem páginas belíssimas sobre o tema. Conhecia
por experiência as delícias escondidas nas Escrituras para aqueles que sabem
descobri-las. “Eu te pergunto irmão caríssimo’ – escreve a São Paulino de Nola
– “viver entre estas coisas, meditá-las
não saber nada fora delas, não te parece que é ter aqui na terra uma morada do
reino celeste?”