Qui, 03 de Janeiro de 2013 19:49
por Dom Alberto Taveira Corrêa, arcebispo de Belém
do Pará e assessor eclesiástico da RCCBRASIL
Gostamos de ano novo, roupa nova, carro novo, gente nova e bonita, ruas limpas,
cidade organizada. Ninguém foi feito para curtir o desgaste e a feiura.
Alegra-nos pensar que nascem de novo nossas esperanças, quando se abre o mês de
janeiro. É muito bom gostar e curtir as esperanças fundadas na certeza de Deus
nos fez para um mundo digno e bem tratado. Fomos feitos para a felicidade!
Contudo, muitas esperanças são frustradas através
do choque com a dura realidade, de forma a gerar em muitas pessoas um
pessimismo crônico diante dos acontecimentos e do mundo. Quando todos os
municípios de nosso país acolheram novos representantes para o poder
legislativo e novos prefeitos à frente do executivo, sensações contraditórias
tomam conta dos cidadãos. De um lado, é sempre o novo que vem à tona, cheio de
promessas. Mas o refrão repetido tantas vezes da desconfiança nos políticos
pode esvaziar o entusiasmo.
Mais ao nosso alcance cotidiano, emprego novo ou
primeiro emprego, aumento de salário, volta de férias, novo chefe na
repartição, casa diferente, transferência, o casamento esperado. As surpresas
estarão à nossa espera nos próximos doze meses, um dia depois do outro. E a
cada dia basta o seu cuidado (Cf. Mt 6,34)! Por que tantas inquietações tomam
conta de nosso coração? Erramos o alvo ao apostar no que é novo e promissor?
Quais as razões para as muitas frustrações? Como preveni-las?
Nas últimas semanas, muitas pessoas arrumaram a
casa e a vida para o fim do mundo, que não veio. Outras correram avidamente às
previsões das várias categorias de adivinhos disponíveis no mercado! E muita
gente ganhou dinheiro com tais oráculos! Os cristãos que fizeram a opção por
seguir Jesus Cristo e querem viver o Evangelho com seriedade se encontram numa
situação diferente. O ensinamento da Carta de São Pedro revela-se oportuno:
“Ora, quem é que vos fará mal, se vos esforçais por fazer o bem? Mais que isso,
se tiverdes que sofrer por causa da justiça, felizes de vós! Não tenhais medo
de suas intimidações, nem vos deixeis perturbar. Antes, declarai santo, em
vossos corações, o Senhor Jesus Cristo e estai sempre prontos a dar a razão da
vossa esperança a todo aquele que a pedir” (1 Pd 3,13-15). Nosso convite de
início do ano é para que todos cheguem justamente a compartilhar as razões da
esperança.
De esperanças passamos à Esperança. Esta é a chave!
Não apostamos nossa vida no sucesso aparente do lucro ou da vitória garantida e
fácil. Não confundimos salvação com prosperidade imediata, não queremos chamar
Deus à obra de nossas mãos (Cf. Os 14,4). Se porventura o ano que começa nos
encontrar na cruz, que a mesma fé e a mesma confiança em Deus subsistam em nós!
Esperança é virtude teologal, dada de presente no Batismo. Trata-se de viver na
esperança, não apenas de esperanças. Viver com a mesma firmeza, na luz ou na
escuridão, diante da vida ou da morte, fortes ou fracos, segurando nas mãos de
Deus.
A prática do bem e das diversas virtudes humanas, a
serem exercitadas no dia a dia do ano novo, tem seu fundamento nas chamadas
virtudes teologais (Cf. Catecismo da Igreja Católica, números 1812-1829), que
fundamentam e orientam as ações dos cristãos. São dadas por Deus para que
sejamos capazes de agir como seus filhos e merecer a vida eterna. São elas a
Fé, a Esperança e a Caridade.
Com a virtude da Esperança, desejamos como nossa
felicidade o Reino dos Céus e a vida eterna, colocando nossa confiança nas
promessas de Cristo e apoiando-nos no socorro da graça do Espírito Santo, mais
do que em nossas forças. “Continuemos a afirmar a nossa esperança, sem
esmorecer, pois aquele que fez a promessa é fiel” (Hb 10,23). “Este Espírito,
ele o derramou copiosamente sobre nós por Jesus Cristo, nosso Salvador, para
que, justificados pela sua graça, nos tornemos, na esperança, herdeiros da vida
eterna” (Tt 3,6-7).
A aspiração à felicidade, plantada por Deus em
nossos corações, é respondida pela virtude da esperança. Com ela, todas as
expectativas que inspiram as nossas atividades são assumidas e ganham sentido.
A partir dela, são purificadas as intenções, equilibrados os impulsos e
eventuais exageros, moderada a concupiscência. Vale, sim, esperar o dia de
amanhã, a aprovação num concurso, a casa nova e toda uma lista de coisas boas.
Tudo encontra o seu lugar quando não é absolutizado. Só a escolha do seguimento
de Jesus Cristo, aquele que é a única esperança, pode dimensionar adequadamente
nossos afetos e sonhos.
“Espera, ó minha alma, espera. Ignoras o dia e a
hora. Vigia cuidadosamente, tudo passa com rapidez, ainda que tua impaciência
torne duvidoso o que é certo e longo um tempo bem curto. Considera que quanto
mais pelejares, mais provarás o amor que tens a teu Deus e mais te alegrarás um
dia com teu Bem-Amado em gosto e deleite que não podem ter fim” (Santa Teresa
de Jesus, excl. 15,3). Para esta serenidade, é necessário confiar além do tempo
e das vicissitudes dos dias que correm. O cristão, certo de que a “esperança é
como uma âncora segura e firme” (Hb 6,19), tem a garantia de que o ano que
começa será o melhor de todos e os que se seguirem, melhores ainda!