A) FORJANDO O NOSSO PERFIL
Igualar-se a Jesus e tarefa
sobre-humana. Quase tão difícil é assemelhar-se a Paulo ou a Apolo. É
necessário, porém, que busquemos possuir um perfil semelhante ao deles para
que, através da força do Espírito Santo, possamos dizer como São Paulo: “Não pretendo dizer que já alcancei (esta
meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho conquistá-la, uma vez
que também fui conquistado por Jesus Cristo” (Fil 3,12).
Esta
deve ser a nossa meta: buscar o perfil do verdadeiro pregador do Evangelho.
Mesmo que nossa luta dure a vida toda, devemos persegui-la. Se formos como o
barro que é dócil nas mãos do oleiro, ou se somos como o ferro que de tão duro
precisa ser levado ao fogo para se transformar em ferramenta, importante é que
o Espírito Santo é o artesão que nos forja segundo a vontade do Pai e a
necessidade de Jesus.
Para
cooperarmos com o trabalho do Santo Espírito, precisamos ser conscientes dos
traços que formam o perfil de um pregador e um traço fundamental nesse perfil é
a experiência concreta de Jesus em sua vida. Sem esta experiência pessoal e
real de salvação ele não passará de um pregador medíocre ou transmissor de
experiências de terceiros.
Deus
nos chama para entregarmos a Ele o nosso perfil, afim de que, com o fogo de seu
Espírito, tal como o ferreiro forja a ferramenta necessária para a colheita,
ele forje nosso caráter, nossa personalidade, imprimindo em nosso perfil os
traços de seu Divino Filho.
A
Sagrada Escritura fornece o caminho que devemos percorrer para a formação de
nosso perfil. O caminho da cruz e da renúncia de si mesmo (Mt 16,24), da consagração total (Lc 1,15; 3,2; Jo 3,30), da conversão (At 9,6) é da busca da santidade.
·
Caminho
da cruz e da Renúncia
Aceitar
a cruz em si mesmo, com tudo o que ela significa, a começar pela própria
negação de si, vai contra as fibras mais profundas de nosso ser. Não aceitar a
sua cruz significa não aceitar a Jesus como seu Senhor. Por isso, essa
aceitação é dom do Espírito Santo, pois, não podemos efetivá-la somente com
nossos esforços.
·
Consagração
A
consagração é necessária para que haja espaço em nossa vida para a ação do Espírito
Santo. Sem a consagração não há porque moldar o perfil do pregador ao perfil de
Jesus.
João
Batista viveu inteiramente consagrado a Deus, pois só assim poderia realizar
sua missão de precursor do Cordeiro de Deus. O próprio Jesus também
consagrou-se ao Pai totalmente, passando com Ele madrugadas inteiras, a fim de
ser obediente à Sua missão e realizá-la ate o fim.
Para
o pregador não há como ser diferente. Se ele quer responder ao chamado do
Senhor para levar seu Nome a todas as gentes, necessariamente precisará
consagrar-se a Deus por inteiro: sua pessoa, seu coração, seu consciente e
inconsciente, toda a sua vontade, dando ao Espírito Santo liberdade para fazer
em sua pessoa e sua vida o querer de Deus.
·
Conversão
Também
ao pregador o Espírito Santo dá uma graça especial, chamada metanóia, que quer
dizer conversão profunda, mudança profunda em suas raízes, atingindo as suas
motivações mais secretas.
O
Espírito Santo, além de dar a graça da transformação interior, ainda ajuda o
pregador a fazer a sua parte que se compõe basicamente de um processo interior
compreendido de cura interior, cura espiritual e formação. Como conseqüência,
acontece em nós uma mudança não só de coração, de comportamento, de atitudes,
mas também mudança de mentalidade.
Em
Rom 12,2 está a vontade de Deus para
a conduta do pregador que precisa se pautar por essa vontade. Para isso, é
preciso discernir os critérios do mundo e aceitar os critérios de Deus; isso
acontece à medida que o processo de conversão se efetiva.
B - AVALIANDO NOSSO PERFIL
Algo
que o bom soldado sabe fazer é avaliar a sua situação. Aceitando a exortação de
São Paulo para “combater o bom combate”, veremos alguns critérios para medir o
nível de qualidade do nosso perfil, para podermos, inclusive, saber onde nos
empenhar com mais esforço. Esses critérios são: amor, prontidão para anunciar o
Evangelho da paz, aceitar que Jesus seja a motivação das pessoas e formar
outros pregadores.
·
Amor
O
amor é a marca mais sublime do perfil do pregador. Jesus olhava para a
multidão, que parecia mais um rebanho sem pastor e Seu coração se enchia de
compaixão. Com toda a disposição e a docilidade que Lhes são características,
Ele saía ao encontro daquelas pessoas e Seu coração transbordava de amor. A
tônica de Sua pregação era o amor e isso comprovamos pela forma carinhosa como
tratava as pessoas (Mt 6,26-34; 11,28;
Mc 5,19; 5,34; 6,31; 10,21 e tantos outros).
São
Paulo, pregador excelente que foi, escreveu um hino ao amor em 1 Cor 13. O pregador deve fazer dele
seu hino para, no Senhor Jesus, amar as pessoas para quem anuncia a Boa Nova.
·
Prontidão
para anunciar o Evangelho da paz
Não cabe no coração do pregador outra
disposição que não seja pregar com o objetivo de levar a paz ao coração dos
filhos de Deus, pois, Jesus nos envia a anunciar a Boa Nova como notícia de
amor e paz. Em Jo 20,19-21, vemos
que um dos cuidados de Jesus foi adotar os apóstolos com o dom da paz. O Pai
enviou Jesus em missão de paz; assim também Jesus envia o pregador. A pregação
cheia de paz é aquela que reanima os espíritos abatidos (At 27,20-25.33-38), que acalma os ânimos em guerra (At 27,43).
Para fazer a vontade do Pai, o
pregador, cujo perfil é formado pelo Espírito Santo, não escolhe a quem pregar,
nem onde ou quando; não se preocupa em pedir conforto no cumprimento de sua
missão; não se preocupa em receber elogios ou presentes, porque o que faz é
para a glória de Deus. Como os apóstolos estão sempre prontos para anunciar,
seja onde e como for acreditando que, ainda que desanime Jesus não esmorece;
ainda que fracasse em seu ministério, Jesus segue fiel ao Seu chamado; ainda
que os demais se oponham, Jesus está ao seu lado.
·
Aceita que Jesus seja a motivação das pessoas
Às vezes, o pregador cai em armadilhas
invisíveis. Uma delas é a tentação de querer para si a glória que pertence a
Jesus. Isso acontece quando o pregador deseja o reconhecimento de seus méritos.
A motivação para as pessoas
freqüentarem o Grupo de Oração ou para fazerem um Seminário de Vida no
Espírito, não é o pregador, mas sim Jesus. Por isso, o pregador deve agradecer
a Ele tanto pelos elogios como pela sua falta, aceitando com mansidão e
afabilidade as críticas recebidas.
O pregador deve buscar a glória de
Deus, se abrindo, assim, para ser, cada vez mais, instrumento apto e eficaz,
disposto a se formar sempre, tendo vida de oração e vida sacramental.
·
Forma outros pregadores
A
opção pastoral de Jesus foi formar discípulos que fossem capazes de continuar a
Sua missão. Podemos completar essa afirmação de Jesus dizendo que a Sua
estratégia pastoral foi formar discípulos pregadores. Se assim não fosse, não
teríamos tido pregadores ao longo destes dois mil anos, nem o Evangelho teria
sido proclamado e propagado e, talvez, nem fôssemos cristãos.
É
mister que o pregador tenha consciência da necessidade de formar outros
pregadores e se empenhe nesse trabalho, considerando o que São Paulo diz em 1 Cor 1,21: “...aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de Sua mensagem”.
Ainda que nos falte todas as razões, somente esta é suficiente não só para
assumirmos o ministério da pregação, como também para formarmos outros que
acreditem que Deus quer salvar os homens pela Sua palavra.
Como
se isso não bastasse, temos a palavra de Jesus em Mt 28,18-20 que, ao mesmo tempo que é uma ordem, define a missão
que devemos cumprir. Anunciamos a Boa Nova da Salvação porque Jesus é o Senhor
de nós e seus servidores, obedientes os seus mandamentos. Ele nos chamou e nos
confiou uma missão: assumir o ministério da pregação e formar pregadores que
tenham no coração a certeza de que o Senhor os chamou para colocar com Ele, já
que “... aprouve a Deus salvar os que
crêem pela loucura de sua mensagem” (1
Cor 1,21).