ARAUTOS DA SALVAÇÃO - Ai de mim se não evangelizar

TEMA 6: FORJANDO E AVALIANDO O NOSSO PERFIL

A) FORJANDO O NOSSO PERFIL
            Igualar-se a Jesus e tarefa sobre-humana. Quase tão difícil é assemelhar-se a Paulo ou a Apolo. É necessário, porém, que busquemos possuir um perfil semelhante ao deles para que, através da força do Espírito Santo, possamos dizer como São Paulo: “Não pretendo dizer que já alcancei (esta meta) e que cheguei à perfeição. Não. Mas eu me empenho conquistá-la, uma vez que também fui conquistado por Jesus Cristo” (Fil 3,12).
            Esta deve ser a nossa meta: buscar o perfil do verdadeiro pregador do Evangelho. Mesmo que nossa luta dure a vida toda, devemos persegui-la. Se formos como o barro que é dócil nas mãos do oleiro, ou se somos como o ferro que de tão duro precisa ser levado ao fogo para se transformar em ferramenta, importante é que o Espírito Santo é o artesão que nos forja segundo a vontade do Pai e a necessidade de Jesus.
            Para cooperarmos com o trabalho do Santo Espírito, precisamos ser conscientes dos traços que formam o perfil de um pregador e um traço fundamental nesse perfil é a experiência concreta de Jesus em sua vida. Sem esta experiência pessoal e real de salvação ele não passará de um pregador medíocre ou transmissor de experiências de terceiros.
            Deus nos chama para entregarmos a Ele o nosso perfil, afim de que, com o fogo de seu Espírito, tal como o ferreiro forja a ferramenta necessária para a colheita, ele forje nosso caráter, nossa personalidade, imprimindo em nosso perfil os traços de seu Divino Filho.
            A Sagrada Escritura fornece o caminho que devemos percorrer para a formação de nosso perfil. O caminho da cruz e da renúncia de si mesmo (Mt 16,24), da consagração total (Lc 1,15; 3,2; Jo 3,30), da conversão (At 9,6) é da busca da santidade.
·         Caminho da cruz e da Renúncia
            Aceitar a cruz em si mesmo, com tudo o que ela significa, a começar pela própria negação de si, vai contra as fibras mais profundas de nosso ser. Não aceitar a sua cruz significa não aceitar a Jesus como seu Senhor. Por isso, essa aceitação é dom do Espírito Santo, pois, não podemos efetivá-la somente com nossos esforços.
·         Consagração
      A consagração é necessária para que haja espaço em nossa vida para a ação do Espírito Santo. Sem a consagração não há porque moldar o perfil do pregador ao perfil de Jesus.
            João Batista viveu inteiramente consagrado a Deus, pois só assim poderia realizar sua missão de precursor do Cordeiro de Deus. O próprio Jesus também consagrou-se ao Pai totalmente, passando com Ele madrugadas inteiras, a fim de ser obediente à Sua missão e realizá-la ate o fim.
            Para o pregador não há como ser diferente. Se ele quer responder ao chamado do Senhor para levar seu Nome a todas as gentes, necessariamente precisará consagrar-se a Deus por inteiro: sua pessoa, seu coração, seu consciente e inconsciente, toda a sua vontade, dando ao Espírito Santo liberdade para fazer em sua pessoa e sua vida o querer de Deus.
·   Conversão
            Também ao pregador o Espírito Santo dá uma graça especial, chamada metanóia, que quer dizer conversão profunda, mudança profunda em suas raízes, atingindo as suas motivações mais secretas.
            O Espírito Santo, além de dar a graça da transformação interior, ainda ajuda o pregador a fazer a sua parte que se compõe basicamente de um processo interior compreendido de cura interior, cura espiritual e formação. Como conseqüência, acontece em nós uma mudança não só de coração, de comportamento, de atitudes, mas também mudança de mentalidade.
            Em Rom 12,2 está a vontade de Deus para a conduta do pregador que precisa se pautar por essa vontade. Para isso, é preciso discernir os critérios do mundo e aceitar os critérios de Deus; isso acontece à medida que o processo de conversão se efetiva.

B - AVALIANDO NOSSO PERFIL
            Algo que o bom soldado sabe fazer é avaliar a sua situação. Aceitando a exortação de São Paulo para “combater o bom combate”, veremos alguns critérios para medir o nível de qualidade do nosso perfil, para podermos, inclusive, saber onde nos empenhar com mais esforço. Esses critérios são: amor, prontidão para anunciar o Evangelho da paz, aceitar que Jesus seja a motivação das pessoas e formar outros pregadores.
·         Amor
            O amor é a marca mais sublime do perfil do pregador. Jesus olhava para a multidão, que parecia mais um rebanho sem pastor e Seu coração se enchia de compaixão. Com toda a disposição e a docilidade que Lhes são características, Ele saía ao encontro daquelas pessoas e Seu coração transbordava de amor. A tônica de Sua pregação era o amor e isso comprovamos pela forma carinhosa como tratava as pessoas (Mt 6,26-34; 11,28; Mc 5,19; 5,34; 6,31; 10,21 e tantos outros).
            São Paulo, pregador excelente que foi, escreveu um hino ao amor em 1 Cor 13. O pregador deve fazer dele seu hino para, no Senhor Jesus, amar as pessoas para quem anuncia a Boa Nova.
·         Prontidão para anunciar o Evangelho da paz
Não cabe no coração do pregador outra disposição que não seja pregar com o objetivo de levar a paz ao coração dos filhos de Deus, pois, Jesus nos envia a anunciar a Boa Nova como notícia de amor e paz. Em Jo 20,19-21, vemos que um dos cuidados de Jesus foi adotar os apóstolos com o dom da paz. O Pai enviou Jesus em missão de paz; assim também Jesus envia o pregador. A pregação cheia de paz é aquela que reanima os espíritos abatidos (At 27,20-25.33-38), que acalma os ânimos em guerra (At 27,43).
Para fazer a vontade do Pai, o pregador, cujo perfil é formado pelo Espírito Santo, não escolhe a quem pregar, nem onde ou quando; não se preocupa em pedir conforto no cumprimento de sua missão; não se preocupa em receber elogios ou presentes, porque o que faz é para a glória de Deus. Como os apóstolos estão sempre prontos para anunciar, seja onde e como for acreditando que, ainda que desanime Jesus não esmorece; ainda que fracasse em seu ministério, Jesus segue fiel ao Seu chamado; ainda que os demais se oponham, Jesus está ao seu lado.
·    Aceita que Jesus seja a motivação das pessoas
Às vezes, o pregador cai em armadilhas invisíveis. Uma delas é a tentação de querer para si a glória que pertence a Jesus. Isso acontece quando o pregador deseja o reconhecimento de seus méritos.
A motivação para as pessoas freqüentarem o Grupo de Oração ou para fazerem um Seminário de Vida no Espírito, não é o pregador, mas sim Jesus. Por isso, o pregador deve agradecer a Ele tanto pelos elogios como pela sua falta, aceitando com mansidão e afabilidade as críticas recebidas.
O pregador deve buscar a glória de Deus, se abrindo, assim, para ser, cada vez mais, instrumento apto e eficaz, disposto a se formar sempre, tendo vida de oração e vida sacramental.
·    Forma outros pregadores
            A opção pastoral de Jesus foi formar discípulos que fossem capazes de continuar a Sua missão. Podemos completar essa afirmação de Jesus dizendo que a Sua estratégia pastoral foi formar discípulos pregadores. Se assim não fosse, não teríamos tido pregadores ao longo destes dois mil anos, nem o Evangelho teria sido proclamado e propagado e, talvez, nem fôssemos cristãos.
            É mister que o pregador tenha consciência da necessidade de formar outros pregadores e se empenhe nesse trabalho, considerando o que São Paulo diz em 1 Cor 1,21: “...aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de Sua mensagem”. Ainda que nos falte todas as razões, somente esta é suficiente não só para assumirmos o ministério da pregação, como também para formarmos outros que acreditem que Deus quer salvar os homens pela Sua palavra.
            Como se isso não bastasse, temos a palavra de Jesus em Mt 28,18-20 que, ao mesmo tempo que é uma ordem, define a missão que devemos cumprir. Anunciamos a Boa Nova da Salvação porque Jesus é o Senhor de nós e seus servidores, obedientes os seus mandamentos. Ele nos chamou e nos confiou uma missão: assumir o ministério da pregação e formar pregadores que tenham no coração a certeza de que o Senhor os chamou para colocar com Ele, já que “... aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem” (1 Cor 1,21).