O pregador tem de se especializar em
buscar e encontrar diferentes formas pelas quais Deus se comunica. É como um
receptor que pode captar todo tipo de mensagens, sem importar o código em que
estejam escritas.
A
Virgem Maria recebeu a palavra e esta se fez carne em seu coração. Ela foi
capaz de escutar uma palavra que não se pode ouvir e crer no impossível. Ela
nos dá o modelo de um pregador: Escutar e crer na palavra, para depois
entregá-la ao mundo.
O
papel do pregador é ser instrumento útil e necessário, já que Deus quis salvar
a humanidade mediante a pregação, pois a fé entra pela escuta da palavra de
Deus, como nos ensina São Paulo em Romanos
10,17:
“A
fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo”.
Da
fonte onde buscamos depende o que encontramos. Daí a importância de fazê-la
adequadamente. Assim, pois, vamos explorar as principais vias que nos conduzem
a mananciais ricos e abundantes, onde a mensagem pode ser encontrada. São
quatro caminhos a percorrer com os olhos bem abertos e os ouvidos bem atentos
para descobrir mensagem a cada passo, já que eles sugerem dinamismo de nossa
parte.
A
– Via cosmológica,
B
– Via de revelação,
C
– Via do Magistério da Igreja,
D
– Via antropológica,
A) VIA COSMOLÓGICA
Pela
via cosmológica se encontra a Deus através do que Ele criou: A natureza. São
pegadas que nos deixam entrever a grandeza do Criador. Aquela que não sabe
apreciar as coisas criadas é como um cego: incapaz de enxergar formas e cores.
O
pregador deve sensível à linguagem da criação. O tempo gasto com coisas banais,
o pregador deve usar para indagar o mundo da natureza, descobrindo a maravilha
da criação, para traduzir em linguagem simples as riquezas que descobrir.
A
natureza nos apresenta mil detalhes que, bem utilizados, fazem mais valiosa a
mensagem que oferecemos. Ilustrar a nossa pregação com exemplos tomados da
criação enriquece seu conteúdo. Vamos ver alguns exemplos que podem ajudar-nos
a transmitir a mensagem. Não se trata de usar os que damos, mas de compreender
que cada segredo da natureza contém uma inspiração para transmitir a palavra de
Deus.
a) O casamento dos pingüins
A pingüim fêmea se enamora do macho e
busca agradá-lo com seus movimentos. O macho a conquista, fazendo-lhe o lar
para onde pretende levá-la e viver com ela. Quando a pingüim chega, examina o
lar e, se este a agrada e nele se sente confortável, ela se acasala com o
macho. Do contrario, se o deixa, mesmo que tenha percebido que poderiam ser
felizes quando se acasalassem. Esses animais têm o instinto de que a união é
para serem felizes; de outra maneira, não aceitam a convivência. Com muitas
pessoas acontece o contrário: primeiro se unem sexualmente e, depois, começam a
ver se é capaz de um fazer a felicidade do outro.
b) Olhos de pomba
O
noivo, do Cântico dos Cânticos, compara sua amada com os olhos de pomba. Por quê? Qual é o segredo desses olhos? São
unifocais, isto é, a pomba vê uma única coisa somente. Enquanto que o olho
humano é multifocal, isto é, pode observar várias coisas ao mesmo tempo. No
contexto do Cântico dos Cânticos, o sentido é que a amada só tem olhos para o
seu amado. Por outro lado, quando a pombinha perde seu companheiro, não se
acasala com nenhum outro pombo. O
símbolo da fidelidade.
A
via cosmológica é um imenso cenário onde basta está atento para escutar a
sinfonia da natureza que canta louvores a seu Criador; aguçar a vista para
descobrir as pegadas de Deus em volta da natureza; afinar o ouvido para escutar
a delicada voz de Deus que fala através das menores coisas.
Jesus
usou continuamente a linguagem da natureza:
-
fez alusão pelo menos a vinte animais;
-
referiu-se aos sinais dos tempos: as estações, nuvens, chuva, calor;
-
fez ver a mensagem de Deus na levedura do fermento e no grão de mostarda;
-
a vida agrícola será o seu meio preferido e comunicação: falou da semeadura, da
colheita, dos frutos, da videira.
Saiamos
da selva de pedra! Descubramos a formiga, o verme, a flor, até que, num belo
dia, tiraremos os sapatos para não ferir as criaturas de Deus!
B) CAMINHO DA REVELAÇÃO
Sabemos
que Deus tomou a iniciativa de buscar o homem. Iniciou o diálogo com o ele,
mais maravilhoso ainda, aproximou-se do homem enviando seu Filho, que lhe
revelou quem é Deus e como Ele é. Acontece, porém, que alguns pregadores
transmitem o que eles pensam de Deus e se esquecem de comunicar o que Deus
disse de si mesmo. Outros preferem complicar-se com especulações teológicas,
esquecendo-se da simplicidade do Evangelho. A dificuldade maior está em que
talvez esses pregadores não tenham tido um encontro assombroso com a revelação
de Deus.
Se
estamos convencidos de que a Bíblia é o lugar de encontro com Deus, devemos
usá-la sem nos cansarmos dela, pois ela nunca se esgota. Desconhecer a
Escritura é desconhecer a Jesus Cristo que é a máxima manifestação de Deus, que
é a palavra mais eloqüente de Deus aos homens.
O
pregador deve saber que não há comparação entre o que é revelado através da
História da Salvação quaisquer outros tipos de revelação. A palavra de Deus
supera em muito a estes. É preciso, então, que o pregador se concentre mais na
fonte da qual emanam todas as riquezas da Igreja.
Por
outro lado, toda a suposta revelação deve contar com a aprovação da Igreja. O
primeiro critério do magistério, para autenticar uma revelação, é se ela está
de acordo com a Revelação de Deus na Bíblia.
A
autêntica interpretação da Bíblia pertence a Igreja dirigida por seus pastores.
A livre interpretação da Bíblia leva cada um a encontrar aquilo que quer da
maneira com que, chegando mesmo ao ponto de dizer à Bíblia o que pretende. Não
podemos interpretar a palavra de Deus do modo como achamos mais conveniente. A
verdadeira interpretação é fruto do magistério da Igreja, que não está sobre a
palavra, mas o seu serviço.
Às
não é fácil embrenhar-se pelos caminhos da Sagrada Escritura, caminho este que
parece árido, muitas vezes, e noutras, parece estar num código que deve ser
decifrado. Mas ela é tão rica que redescobrir o seu valor é uma graça do
Espírito Santo aos que tem o coração simples, aberto e receptivo como o de Maria.
Deus
continua Se manifestando no coração daqueles que acreditam. Continua revelando
os segredos de seu coração a seus amigos. Por isso, cada um, de maneira muito
pessoal, é ensinado por Deus (Jer31, 33),
e é isso precisamente o que tem de transmitir aos demais.
O
bom pregador insistimos, não é aquele que repete o que leu ou escutou, mas
aquele que fala o que aprendeu aos pés de Jesus.
C) CAMINHO DO MAGISTÉRIO DA IGREJA
O
Magistério da Igreja, os Santos Padres e os Documentos Oficiam da Igreja são
fontes inesgotáveis onde o pregador encontra mensagens muito ricas.
O
Magistério é como uma mina que contém muitas jazidas de ouro e prata,
precisando somente ser exploradas. E já sabemos que nem o ouro e nem a prata
são encontrados puros, mas em pedras brutas. Assim também acontece com o
Magistério da Igreja: precisa ser explorado para se tornar conhecido como uma
grande riqueza da Igreja.
Os
Santos Padres têm escritos maravilhosos, interpretações originais e exemplos
muito pedagógicos para nos ensinar ou ajudar a descobrir as mensagens.
Os
Documentos do Vaticano II são fundamentais para todo pregador. É claro que não
se trata dê-los às pessoas, mas de se extrair os ensinamentos, digeri-los e,
depois, entregá-lo aos fiéis, na pregação, como pedra já polida e
resplandecente.
Também
são muito valiosos os Documentos dos Bispos, em especial o Documento de Puebla
para nós, pois contêm a adaptação da mensagem de nosso marco histórico, de
acordo com a análise da realidade de nosso Continente.
D) VIA ANTROPOLÓGIGA
O Homem em si mesmo é a presença de
Deus neste mundo. Somos feitos à sua Imagem e semelhança, e quem não sabe
descobrir a Deus numa pessoa, na sua história e na sua vida, não é capaz de
encontrá-Lo em nenhuma outra parte.
a) O organismo:
·
Sua
constituição genérica, base da herança;
·
Seu
cérebro é o mais perfeito dos computadores;
·
Sua
capacidade de converter objetos particulares e concretos em idéias abstratas e
universais;
·
Sua
inteligência, imaginação e memória;
·
A
diferenciação celular no processo de gestação.
Com
razão exclama o salmista: “Que maravilha, Senhor, sou eu! Obra de suas mãos,
apenas um pouco inferior aos anjos”!
b) história:
Um campo onde podemos também ver a
ação de Deus na vida humana é a história de cada um. Cada ação, época e cultura
têm uma mensagem salvífica para todos nós.
O
pregador tem de ser um espectador de todo o acontecer da história humana. Deve
acostumar-se à leitura de jornais e ver os noticiários, percebendo que, se
neles nos deparamos com muitos conflitos, guerras, destruição, pobreza, etc.,
isto denota a ausência de Deus nesses fatos.
Um
dia perguntaram a Miquelângelo como conseguia fazer obras de arte tão lindas
daquelas pedras inertes, ao que ele respondeu: “Eu não faço nada. Trazem essas
pedras para mim e eu, simplesmente, tiro os pedacinhos que sobram a esses
mármores e eles saem a reluzir as figuras que ali se achavam escondidas”.
O
pregador deve saber tirar os pedacinhos que sobram, para descobrir as obras de
arte que existem em cada pessoa, em sua história, em sua vida.
c) Anunciando e Denunciando:
Na
variedade e complexidade do trabalho humano, Deus se faz presente de duas
maneiras:
·
Anunciando Sua presença, através do amor, da
generosidade e do altruísmo dos seres humanos;
·
Denunciando Sua ausência, através das guerras,
injustiças, divisões e todo tipo de egoísmo e maldade.
Neste
sentido, a Constituição Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, nos mostra,
de maneira genial, a presença de Deus no mundo e na história. Se nem todas as
coisas são boas, todas são susceptíveis de chegar a sê-lo, ao impregná-las de
uma mensagem. Também os acontecimentos negativos podem ser reutilizados para
transmitir mensagens evangélicas.
Jesus
não nos quis salvar por correspondência. Por isso, a palavra se fez carne e
habitou entre nós. Se o pregador não está encarnado na vida dos homens, nunca
poderá estar perto deles para manifestar-lhes a salvação de Deus.
Paulo
supôs ter descoberto a presença de Deus num lugar repleto de deuses pagãos (At 17,17-22). Estava indignado por ver
a cidade cheia de ídolos. Discutia com os judeus ou com qualquer pagão,
chegando a ir até o Areópago. Apesar de sua indignação, soube aproveitar-se da
ocasião para anunciar o Evangelho. Estava capacitado para discutir com qualquer
um; era um homem que estava em dia com os acontecimentos de sua época.
d) A música:
As letras das músicas que são cantadas
são um trampolim maravilhoso para pregar na linguagem de todos os dias, pois,
têm algo que o pregador pode usar para anunciar ou denunciar. Por exemplo, há
uma música que diz: “Se amar-te é pecado, quero ser pecador” (não importa que
seja pecado).
Seria
lamentável desperdiçar esses elementos que todo mundo usa na vida diária.
Denunciar os critérios do mundo é uma parte da evangelização. Renunciar a estas
oportunidades é saltar do trem onde viaja o mundo.
e) Biografias:
É indispensável também para um
pregador o estudo de biografias. Quantas pessoas testemunharam o amor de Deus,
o amor ao próximo, a graça da perseverança, o dom da fortaleza! E a vida dos
santos, dos mártires! Quantos elementos têm para enriquecer as nossas
pregações. Basta nos interessarmos e buscarmos essas leituras.
f) Cultura:
O pregador não pode desconhecer a
cultura do povo ou do lugar onde vai pregar. Ele deve ser uma pessoa que
conhece o terreno onde pisa e parte dele para poder anunciar a mensagem de
salvação. Reconhece os valores de cada cultura, assim como denuncia os
antivalores.
g) Análise da realidade:
Não existe melhor porta para que as
pessoas se abram à mensagem do que partir de sua situação. É preciso fazer um
“estudo do solo”, análise da realidade, para poder responder melhor aos
destinatários da evangelização.
As
pessoas sabem quando nossas pregações cheiram a livros e quando realmente lhes
falamos em sua linguagem, tocando seus pontos de interesse; não apreciam o que pregamos, se antes não valorizamos suas
coisas. Mediante isso, o pregador deve ser pessoa de seu tempo, fiel a Deus,
mas também ao homem porque conhece sua vida, para assim chegar às pessoas
quando toca em situações do dia-a-dia.
Antigamente
se discutia como eram o primeiro céu, o segundo e o terceiro céus... Isso não
interessa às pessoas que vivem imersas na agitação da vida. Para que falar do
que é “a grande tribulação”, que não sabemos nem quando nem como será, se o que
as pessoas querem saber é como sair das tribulações diárias como depressão,
angústias, problemas econômicos, solidão, infidelidade matrimonial, crises
familiares, etc.
O
pregador tem de ter os olhos abertos para ver as necessidades dos demais. Como
a Virgem Maria, é o primeiro a perceber que falta o vinho da alegria nos
relacionamentos, o vinho da compreensão para as urgências mais fundamentais,
etc.
Qualquer
pessoa pode passar distraída pelo caminho, menos o pregador. Os anúncios e os
nomes que lê pelos caminhos, os lugares que vê como bar, lojas, boates, clubes,
tudo é material para a sua próxima pregação. Basta ter atenção e dedicação.
h) Ilumina a realidades:
O pregador sente o peso de seu povo,
sofre com ele e, por isso, é capaz de iluminar a situação com a Palavra de
Deus, de dar uma resposta às situações concretas da vida. Não se trata de
enfrentar a realidade, nem tão pouco remoer a negrura da mesma, mas de irradiar
sobre ela a Palavra divina. O pregador possui a luz da Palavra de Deus para
iluminar a saída em meio à escuridão. Sua função não é apenas falar dos
problemas que atingem as pessoas, mas mostrar o plano de Deus em meio a essas
circunstâncias.
Há
pregadores que só criticam a situação e culpam os outros pela injustiça. É como
alguém que, quando falta a energia elétrica, diz que apagou a luz. Ninguém
precisa escutar que acabou a luz. O que é urgente é que se ofereça uma luz que
dê sentido aos problemas e dificuldades da vida.
Jesus
o fez como a Samaritana. Ela havia bebido de muitas fontes sem saciar sua sede.
O poço de seu coração estava seco. Então, Jesus lhe propôs a água viva que lhe
mataria a sede e assim, o seu coração se converteria em uma fonte que brota até
a vida eterna. Jesus não repreendeu a samaritana e, da mesma forma, nem Zaqueu,
nem a prostituta, nem a mulher adúltera. Mas deu-lhes a luza da vida.