ARAUTOS DA SALVAÇÃO - Ai de mim se não evangelizar

TEMA 8: OS CAMINHOS DA PREGAÇÃO

O pregador tem de se especializar em buscar e encontrar diferentes formas pelas quais Deus se comunica. É como um receptor que pode captar todo tipo de mensagens, sem importar o código em que estejam escritas.
            A Virgem Maria recebeu a palavra e esta se fez carne em seu coração. Ela foi capaz de escutar uma palavra que não se pode ouvir e crer no impossível. Ela nos dá o modelo de um pregador: Escutar e crer na palavra, para depois entregá-la ao mundo.
            O papel do pregador é ser instrumento útil e necessário, já que Deus quis salvar a humanidade mediante a pregação, pois a fé entra pela escuta da palavra de Deus, como nos ensina São Paulo em Romanos 10,17:
“A fé provém da pregação e a pregação se exerce em razão da palavra de Cristo”.
            Da fonte onde buscamos depende o que encontramos. Daí a importância de fazê-la adequadamente. Assim, pois, vamos explorar as principais vias que nos conduzem a mananciais ricos e abundantes, onde a mensagem pode ser encontrada. São quatro caminhos a percorrer com os olhos bem abertos e os ouvidos bem atentos para descobrir mensagem a cada passo, já que eles sugerem dinamismo de nossa parte.
            A – Via cosmológica,
            B – Via de revelação,
            C – Via do Magistério da Igreja,
            D – Via antropológica,

A) VIA COSMOLÓGICA
            Pela via cosmológica se encontra a Deus através do que Ele criou: A natureza. São pegadas que nos deixam entrever a grandeza do Criador. Aquela que não sabe apreciar as coisas criadas é como um cego: incapaz de enxergar formas e cores.
            O pregador deve sensível à linguagem da criação. O tempo gasto com coisas banais, o pregador deve usar para indagar o mundo da natureza, descobrindo a maravilha da criação, para traduzir em linguagem simples as riquezas que descobrir.
            A natureza nos apresenta mil detalhes que, bem utilizados, fazem mais valiosa a mensagem que oferecemos. Ilustrar a nossa pregação com exemplos tomados da criação enriquece seu conteúdo. Vamos ver alguns exemplos que podem ajudar-nos a transmitir a mensagem. Não se trata de usar os que damos, mas de compreender que cada segredo da natureza contém uma inspiração para transmitir a palavra de Deus.
a) O casamento dos pingüins
            A pingüim fêmea se enamora do macho e busca agradá-lo com seus movimentos. O macho a conquista, fazendo-lhe o lar para onde pretende levá-la e viver com ela. Quando a pingüim chega, examina o lar e, se este a agrada e nele se sente confortável, ela se acasala com o macho. Do contrario, se o deixa, mesmo que tenha percebido que poderiam ser felizes quando se acasalassem. Esses animais têm o instinto de que a união é para serem felizes; de outra maneira, não aceitam a convivência. Com muitas pessoas acontece o contrário: primeiro se unem sexualmente e, depois, começam a ver se é capaz de um fazer a felicidade do outro.
b) Olhos de pomba
            O noivo, do Cântico dos Cânticos, compara sua amada com os olhos de pomba.  Por quê? Qual é o segredo desses olhos? São unifocais, isto é, a pomba vê uma única coisa somente. Enquanto que o olho humano é multifocal, isto é, pode observar várias coisas ao mesmo tempo. No contexto do Cântico dos Cânticos, o sentido é que a amada só tem olhos para o seu amado. Por outro lado, quando a pombinha perde seu companheiro, não se acasala com nenhum outro pombo.  O símbolo da fidelidade.
            A via cosmológica é um imenso cenário onde basta está atento para escutar a sinfonia da natureza que canta louvores a seu Criador; aguçar a vista para descobrir as pegadas de Deus em volta da natureza; afinar o ouvido para escutar a delicada voz de Deus que fala através das menores coisas.
            Jesus usou continuamente a linguagem da natureza:
            - fez alusão pelo menos a vinte animais;
            - referiu-se aos sinais dos tempos: as estações, nuvens, chuva, calor;
            - fez ver a mensagem de Deus na levedura do fermento e no grão de mostarda;
            - a vida agrícola será o seu meio preferido e comunicação: falou da semeadura, da colheita, dos frutos, da videira.
            Saiamos da selva de pedra! Descubramos a formiga, o verme, a flor, até que, num belo dia, tiraremos os sapatos para não ferir as criaturas de Deus!

B) CAMINHO DA REVELAÇÃO
            Sabemos que Deus tomou a iniciativa de buscar o homem. Iniciou o diálogo com o ele, mais maravilhoso ainda, aproximou-se do homem enviando seu Filho, que lhe revelou quem é Deus e como Ele é. Acontece, porém, que alguns pregadores transmitem o que eles pensam de Deus e se esquecem de comunicar o que Deus disse de si mesmo. Outros preferem complicar-se com especulações teológicas, esquecendo-se da simplicidade do Evangelho. A dificuldade maior está em que talvez esses pregadores não tenham tido um encontro assombroso com a revelação de Deus.
            Se estamos convencidos de que a Bíblia é o lugar de encontro com Deus, devemos usá-la sem nos cansarmos dela, pois ela nunca se esgota. Desconhecer a Escritura é desconhecer a Jesus Cristo que é a máxima manifestação de Deus, que é a palavra mais eloqüente de Deus aos homens.
            O pregador deve saber que não há comparação entre o que é revelado através da História da Salvação quaisquer outros tipos de revelação. A palavra de Deus supera em muito a estes. É preciso, então, que o pregador se concentre mais na fonte da qual emanam todas as riquezas da Igreja.
            Por outro lado, toda a suposta revelação deve contar com a aprovação da Igreja. O primeiro critério do magistério, para autenticar uma revelação, é se ela está de acordo com a Revelação de Deus na Bíblia.
            A autêntica interpretação da Bíblia pertence a Igreja dirigida por seus pastores. A livre interpretação da Bíblia leva cada um a encontrar aquilo que quer da maneira com que, chegando mesmo ao ponto de dizer à Bíblia o que pretende. Não podemos interpretar a palavra de Deus do modo como achamos mais conveniente. A verdadeira interpretação é fruto do magistério da Igreja, que não está sobre a palavra, mas o seu serviço.
            Às não é fácil embrenhar-se pelos caminhos da Sagrada Escritura, caminho este que parece árido, muitas vezes, e noutras, parece estar num código que deve ser decifrado. Mas ela é tão rica que redescobrir o seu valor é uma graça do Espírito Santo aos que tem o coração simples, aberto e receptivo como o de Maria.
            Deus continua Se manifestando no coração daqueles que acreditam. Continua revelando os segredos de seu coração a seus amigos. Por isso, cada um, de maneira muito pessoal, é ensinado por Deus (Jer31, 33), e é isso precisamente o que tem de transmitir aos demais.
            O bom pregador insistimos, não é aquele que repete o que leu ou escutou, mas aquele que fala o que aprendeu aos pés de Jesus.

C) CAMINHO DO MAGISTÉRIO DA IGREJA
            O Magistério da Igreja, os Santos Padres e os Documentos Oficiam da Igreja são fontes inesgotáveis onde o pregador encontra mensagens muito ricas.
            O Magistério é como uma mina que contém muitas jazidas de ouro e prata, precisando somente ser exploradas. E já sabemos que nem o ouro e nem a prata são encontrados puros, mas em pedras brutas. Assim também acontece com o Magistério da Igreja: precisa ser explorado para se tornar conhecido como uma grande riqueza da Igreja.
            Os Santos Padres têm escritos maravilhosos, interpretações originais e exemplos muito pedagógicos para nos ensinar ou ajudar a descobrir as mensagens.
            Os Documentos do Vaticano II são fundamentais para todo pregador. É claro que não se trata dê-los às pessoas, mas de se extrair os ensinamentos, digeri-los e, depois, entregá-lo aos fiéis, na pregação, como pedra já polida e resplandecente.
            Também são muito valiosos os Documentos dos Bispos, em especial o Documento de Puebla para nós, pois contêm a adaptação da mensagem de nosso marco histórico, de acordo com a análise da realidade de nosso Continente.

D) VIA ANTROPOLÓGIGA
            O Homem em si mesmo é a presença de Deus neste mundo. Somos feitos à sua Imagem e semelhança, e quem não sabe descobrir a Deus numa pessoa, na sua história e na sua vida, não é capaz de encontrá-Lo em nenhuma outra parte.
a) O organismo:
·         Sua constituição genérica, base da herança;
·         Seu cérebro é o mais perfeito dos computadores;
·         Sua capacidade de converter objetos particulares e concretos em idéias abstratas e universais;
·         Sua inteligência, imaginação e memória;
·         A diferenciação celular no processo de gestação.
            Com razão exclama o salmista: “Que maravilha, Senhor, sou eu! Obra de suas mãos, apenas um pouco inferior aos anjos”!
b) história:
            Um campo onde podemos também ver a ação de Deus na vida humana é a história de cada um. Cada ação, época e cultura têm uma mensagem salvífica para todos nós.
            O pregador tem de ser um espectador de todo o acontecer da história humana. Deve acostumar-se à leitura de jornais e ver os noticiários, percebendo que, se neles nos deparamos com muitos conflitos, guerras, destruição, pobreza, etc., isto denota a ausência de Deus nesses fatos.
            Um dia perguntaram a Miquelângelo como conseguia fazer obras de arte tão lindas daquelas pedras inertes, ao que ele respondeu: “Eu não faço nada. Trazem essas pedras para mim e eu, simplesmente, tiro os pedacinhos que sobram a esses mármores e eles saem a reluzir as figuras que ali se achavam escondidas”.
            O pregador deve saber tirar os pedacinhos que sobram, para descobrir as obras de arte que existem em cada pessoa, em sua história, em sua vida.
c) Anunciando e Denunciando:
            Na variedade e complexidade do trabalho humano, Deus se faz presente de duas maneiras:
·  Anunciando Sua presença, através do amor, da generosidade e do altruísmo dos seres humanos;
·  Denunciando Sua ausência, através das guerras, injustiças, divisões e todo tipo de egoísmo e maldade.
            Neste sentido, a Constituição Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II, nos mostra, de maneira genial, a presença de Deus no mundo e na história. Se nem todas as coisas são boas, todas são susceptíveis de chegar a sê-lo, ao impregná-las de uma mensagem. Também os acontecimentos negativos podem ser reutilizados para transmitir mensagens evangélicas.
            Jesus não nos quis salvar por correspondência. Por isso, a palavra se fez carne e habitou entre nós. Se o pregador não está encarnado na vida dos homens, nunca poderá estar perto deles para manifestar-lhes a salvação de Deus.
            Paulo supôs ter descoberto a presença de Deus num lugar repleto de deuses pagãos (At 17,17-22). Estava indignado por ver a cidade cheia de ídolos. Discutia com os judeus ou com qualquer pagão, chegando a ir até o Areópago. Apesar de sua indignação, soube aproveitar-se da ocasião para anunciar o Evangelho. Estava capacitado para discutir com qualquer um; era um homem que estava em dia com os acontecimentos de sua época.
d) A música:
            As letras das músicas que são cantadas são um trampolim maravilhoso para pregar na linguagem de todos os dias, pois, têm algo que o pregador pode usar para anunciar ou denunciar. Por exemplo, há uma música que diz: “Se amar-te é pecado, quero ser pecador” (não importa que seja pecado).
            Seria lamentável desperdiçar esses elementos que todo mundo usa na vida diária. Denunciar os critérios do mundo é uma parte da evangelização. Renunciar a estas oportunidades é saltar do trem onde viaja o mundo.
e) Biografias:
            É indispensável também para um pregador o estudo de biografias. Quantas pessoas testemunharam o amor de Deus, o amor ao próximo, a graça da perseverança, o dom da fortaleza! E a vida dos santos, dos mártires! Quantos elementos têm para enriquecer as nossas pregações. Basta nos interessarmos e buscarmos essas leituras.
f) Cultura:
            O pregador não pode desconhecer a cultura do povo ou do lugar onde vai pregar. Ele deve ser uma pessoa que conhece o terreno onde pisa e parte dele para poder anunciar a mensagem de salvação. Reconhece os valores de cada cultura, assim como denuncia os antivalores.
g) Análise da realidade:
            Não existe melhor porta para que as pessoas se abram à mensagem do que partir de sua situação. É preciso fazer um “estudo do solo”, análise da realidade, para poder responder melhor aos destinatários da evangelização.
            As pessoas sabem quando nossas pregações cheiram a livros e quando realmente lhes falamos em sua linguagem, tocando seus pontos de interesse; não apreciam o  que pregamos, se antes não valorizamos suas coisas. Mediante isso, o pregador deve ser pessoa de seu tempo, fiel a Deus, mas também ao homem porque conhece sua vida, para assim chegar às pessoas quando toca em situações do dia-a-dia.
            Antigamente se discutia como eram o primeiro céu, o segundo e o terceiro céus... Isso não interessa às pessoas que vivem imersas na agitação da vida. Para que falar do que é “a grande tribulação”, que não sabemos nem quando nem como será, se o que as pessoas querem saber é como sair das tribulações diárias como depressão, angústias, problemas econômicos, solidão, infidelidade matrimonial, crises familiares, etc.
            O pregador tem de ter os olhos abertos para ver as necessidades dos demais. Como a Virgem Maria, é o primeiro a perceber que falta o vinho da alegria nos relacionamentos, o vinho da compreensão para as urgências mais fundamentais, etc.
            Qualquer pessoa pode passar distraída pelo caminho, menos o pregador. Os anúncios e os nomes que lê pelos caminhos, os lugares que vê como bar, lojas, boates, clubes, tudo é material para a sua próxima pregação. Basta ter atenção e dedicação.
h) Ilumina a realidades:
            O pregador sente o peso de seu povo, sofre com ele e, por isso, é capaz de iluminar a situação com a Palavra de Deus, de dar uma resposta às situações concretas da vida. Não se trata de enfrentar a realidade, nem tão pouco remoer a negrura da mesma, mas de irradiar sobre ela a Palavra divina. O pregador possui a luz da Palavra de Deus para iluminar a saída em meio à escuridão. Sua função não é apenas falar dos problemas que atingem as pessoas, mas mostrar o plano de Deus em meio a essas circunstâncias.
            Há pregadores que só criticam a situação e culpam os outros pela injustiça. É como alguém que, quando falta a energia elétrica, diz que apagou a luz. Ninguém precisa escutar que acabou a luz. O que é urgente é que se ofereça uma luz que dê sentido aos problemas e dificuldades da vida.
            Jesus o fez como a Samaritana. Ela havia bebido de muitas fontes sem saciar sua sede. O poço de seu coração estava seco. Então, Jesus lhe propôs a água viva que lhe mataria a sede e assim, o seu coração se converteria em uma fonte que brota até a vida eterna. Jesus não repreendeu a samaritana e, da mesma forma, nem Zaqueu, nem a prostituta, nem a mulher adúltera. Mas deu-lhes a luza da vida.