Toda vocação leva implícita uma
missão. Por isso, devemos nos perguntar: “Para
que o Senhor nos chamou?”.
“Depois
subiu à montanha e chamou a Si os que Ele queria, e eles foram até Ele. E
constituiu Doze, para que ficassem com Ele, para enviá-los a pregar, e terem
autoridade para expulsar os demônios”
(Mc 3,13-15).
Notemos primeiro, que foi um
chamamento livre da parte do Senhor aos que Ele mesmo quis, e não algo que a
pessoa adquiriu graças à sua preparação ou méritos próprios.
“E
o que no mundo é vil e desprezado, o que não é Deus escolheu para reduzir a
nada o que é, a fim de que nenhuma criatura se possa vangloriar diante de Deus” (1
Cor 1,28-29).
Não somos escolhidos por sermos os
melhores, mas para que assim se manifeste que é por graça e não por méritos
próprios. Por isso, Jesus disse:
“Não
fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi” (Jo
15,16).
Se o livre chamado é obra de Deus, a
livre resposta é exclusiva de cada um de nós. A escolha caiu em nós, porém, a
resposta deve partir de nós. Deus nos chama, porém, não obriga. Podemos ou não
responder ao Seu chamado.
Mesmo texto de Jo 15, 16, sintetiza
de maneira extraordinária a tríplice dimensão de nosso Batismo:
·
Somos
sacerdotes para estar com Ele.
·
Somos
profetas para falar dEle.
·
Somos
reis para atuar em seu Nome.
a)
ESTAR COM ELE
Em primeiro lugar nos chamou para
estar com Ele. Estar com Jesus não é algo estático, mas dinâmico. Estar com
Jesus, para ser como Jesus, para reproduzir a imagem de Jesus até poder dizer
com São Paulo:
“Já
não sou eu quem vive, mas é Cristo quem vive em mim” (Gal
2,20).
Este ponto é determinante, pois,
dele dependem os outros dois. Se não permanecermos com Jesus, nunca poderemos
falar em seu Nome
nem atuar como Ele.
Para dar um fruto abundante que
permaneça, os ramos devem estar unidos à videira. Quantos pregadores e
apóstolos abandonam o ministério e voltam para casa cheios de feridas, porque
quiseram atuar no Nome de Jesus, sem antes haver estado com Ele. Não basta
invocar o poderoso nome de um conhecido; seu poder se nos confere não como um
amuleto, mas na medida em que estamos unidos a ele.
b)
FALAR DELE
A grande missão dada por Jesus a
todos os Seus é ser portadores da Boa Nova a toda criatura:
“Ide
e anunciai a Boa Nova até os confins da terra” (Mc 16,15).
A pregação é, pois, uma necessidade
no plano de Deus. Afirma São Paulo que:
“Deus
quis salvar os crentes mediante a necessidade da pregação, pois a fé entra pela
escuta da Palavra” (1 Cor 1,21; Rom 10,17).
Deus poderia ter salvo a humanidade
de mil formas. Quis fazê-lo, porém, mediante o anúncio da palavra e chamou a
nós.
Jesus quer que sejamos Seus
mensageiros e que anunciemos a Boa Nova do Reino. Se nos enviou a pregar,
precisamos fazer bem nosso trabalho, pregando com convicção para que as pessoas
acreditem em nossas palavras e, convencidas pelo poder do Espírito, possam aderir
a Jesus. Também de maneira profissional, usando todos os meios possíveis para
revestir dignamente a mensagem que levamos.
Muitas vezes, o pregador proclama
grandes verdades como se fossem mentiras, não convencendo, portanto, as
pessoas. A diferença entre o êxito das telenovelas e o fracasso de muitos
pregadores é que, nas primeiras, se dizem grandes mentiras como se fossem
verdades de maneira tão convincente que até comovem os que as assistem; e
aqueles que pregam, falam das mais belas verdades de maneira tão fria que não convencem
ninguém. A nova vida que apresentam não é mais atrativa que a outra.
Trata-se de fazer Jesus presente,
não apenas falar dEle. O mais importante da samaritana não foi falar de Jesus,
mas fazer com que Ele falasse. A meta de todo evangelizador é receber o elogio
que os samaritanos fizeram a esta mulher:
“Já
não cremos por tuas palavras, mas porque nós mesmos O vimos e O escutamos” (Jo
4,42).
C)
ATUAR NELE
Nossa missão não é diferente da missão de Jesus:
“Como
o Pai me enviou, também Eu vos envio. Recebam o Espírito Santo...” (Jo
20,21).
Somos colaboradores da mesma vinha,
trabalhamos no mesmo campo que Jesus. Para isso o Pai nos deu o mesmo Espírito
que animava a atividade apostólica de Jesus. Além disso, foram-nos confiados
carismas para fazer o mesmo que Jesus fez.
Atuar nEle significa levar a cabo a mesma obra que o Pai
Lhe confiou: instaurar o Reino de Deus. Somos chamados a ser colaboradores na
maior obra da história: a salvação da humanidade. Devemos, porém, considerar
duas coisas.
Nós não temos nenhum poder.
Portanto, nossa autoridade nos é dada pelo Pai que a confiou a Jesus, Jesus aos
seus apóstolos, estes a seus sucessores. Se não temos consciência disso,
corremos o sério risco de trabalhar não em Nome de Jesus, mas em nome próprio,
não construindo o Reino de Deus, mas o seu próprio.
Não se trata de uma herança à que
tenhamos direito, ou que adquirimos de alguma forma. Nenhum cargo ou autoridade
eclesiástica se transforma em talismã infalível que garanta a eficácia do
ministério.
Em 2Rs 2 encontramos o caso de Eliseu que é muito esclarecedor:
Seu mestre Elias foi um grande
profeta, que realizou prodígios e milagres. Um dia, Elias foi arrebatado ao céu
e deixou cair seu manto sobre seu discípulo Eliseu. Este acreditou que assim herdava
o poder e a missão de seu mestre. Então golpeou as águas do Jordão para que se
abrissem, porém não conseguiu fazê-lo. Retrocedeu e percebeu que não era pelo
manto de Elias, mas “pelo Deus de Elias”. Voltou a golpear as águas e o rio
Jordão se dividiu em dois.
Não é imitando a outra pessoa, por
maior e capaz que seja, que nossa pregação vai obter frutos. Nenhum manto
(objeto, técnica ou oratória) pode suprir a ação do Espírito Santo. Não se
trata de imitar a outro, mas dá unção que vem do Espírito de Deus.