ARAUTOS DA SALVAÇÃO - Ai de mim se não evangelizar

TEMA 2: IR ALÉM

Muitos pregam desacertadamente, não por falta de qualidades, mas porque não sabem ir além da mensagem. A passagem da vida de Moisés, em Êx 3, vem iluminar-nos neste sentido, mostrando a necessidade de sairmos da rotina e irmos além.
Todos os dias, Moises tirava as ovelhas do curral à mesma hora, levava-as para a mesma região e, em todas as tardes, antes que o sol se ocultasse, regressava pontualmente, tendo cumprido sua rotineira tarefa. Porém, um dia decidiu correr o risco da aventura. Não levou as ovelhas pelo mesmo caminho, mas embrenhou-se no árido deserto, onde não há nenhum tipo de caminho, nenhum tipo de segurança, portanto. Cruzou fronteiras e descobriu lugares onde ninguém ainda havia chegado. Tudo era completamente novo.
Quando saiu da rotina e se atreveu a “ir para além do deserto”, foi quando se encontrou com um Deus novo: o Deus que escuta o clamor de Seu povo e está disposto a libertá-lo. A novidade de Deus se descobre apenas quando ousamos “ir para além do deserto”. Através da pregação, o pregador tem de levar as ovelhas para além do humanamente possível.
As comunidades precisam ter pregadores dispostos a “ir além”, para que possam superar os limites do estabelecido, das metas propostas, do razoável, do que é lógico; que se atrevam a caminhar sobre as águas, aventurando-se ao que humanamente parece impossível. Apenas esses pregadores são capazes de pregações libertadoras, porque são livres de fronteiras. Só eles podem embrenhar-se no deserto, porque perderam o medo de extraviar-se.
Quando Moisés ultrapassou o horizonte do cotidiano, Deus o considerou apto para libertar Seu povo e conduzi-lo à terra prometida. Quem não cruzou os limites do convencional, não pode levar o povo à Aliança.
O bom pregador não repete sempre o mesmo, nem aprende as coisas de memória ou lê o que pregou em outra ocasião. Mas, sempre pergunta: “Como poderia pregar isto de forma diferente? Como farei para chegar ‘para além’ de onde já cheguei?”
O Papa João Paulo II convocou todos a uma “nova evangelização”. Nova, não só nos conteúdos, mas nos métodos, nas formas e nos ardor para levar as pessoas ao encontro de Jesus. Temos, então, de sair dos nossos costumes, de nossa mesmice, para encontrar novos métodos que façam com que as pessoas alcancem mais facilmente, com abertura e com gosto, a eterna mensagem do Evangelho. Mesmo que seja doloroso ou difícil, temos de aceitar que o tradicional envelheceu, e que o vinho novo precisa de odres novos.
Deus usou os meios mais diferentes e interessantes para atrair as pessoas:
·    Aos pastores de Belém os chamou por meio de um anjo (Lc 2,9-16);
·   Aos magos, através de uma estrela (Mt 2,10);
·   Às pessoas, Jesus falava por meio de comparações relativas à vida simples e comum.
O zelo pelo Evangelho nos deve impulsionar a buscar formas simples para cumprir a grande incumbência de levar a Boa Nova a todos. Por isso, temos de encontrar novos veículos e meios de comunicação para fazer a mensagem chegar a pessoas, ambientes e tipos de vida que ainda não a tenham recebido.
Se um fabricante atesta que seu produto não está mais tendo saída, estuda a causa e trata de remediá-la, sendo capaz, inclusive, de mudar-lhe o nome e a embalagem. Então, se o Papa nos chama a uma Nova Evangelização, necessitamos de humildade para morrer às antigas formas de pregar e precisamos de intrepidez para explorar novas rotas. Necessitamos de astúcia e, ainda mais, de paixão pelo Evangelho, para estarmos sempre pensando nos recursos originais e eficazes para que a semente dê mais frutos.
Se os empresários de nossa época usam os meios mais rápidos e eficazes para se comunicar com o publico, com maior razão, nos devemos encontrar os meios mais apropriados para comunicar a todos, de qualquer lugar, de qualquer classe social, de qualquer idade, a grandiosa mensagem que levamos. Por isso, a ousadia em avançar, em ir além, sem medo, sem apego ao que já sabemos, ao que criamos, mas acreditando que somos sempre chamados ao “novo”, pois o Espírito Santo é o Deus das novidades, das surpresas.
Como pregador não existe em ir além. Você descobrirá a novidade de Deus apenas quando decidir “ir além” de onde já conseguiu chegar.