Muitos pregam desacertadamente, não
por falta de qualidades, mas porque não sabem ir além da mensagem. A passagem
da vida de Moisés, em Êx 3, vem
iluminar-nos neste sentido, mostrando a necessidade de sairmos da rotina e
irmos além.
Todos os dias, Moises tirava as ovelhas
do curral à mesma hora, levava-as para a mesma região e, em todas as tardes,
antes que o sol se ocultasse, regressava pontualmente, tendo cumprido sua
rotineira tarefa. Porém, um dia decidiu correr o risco da aventura. Não levou
as ovelhas pelo mesmo caminho, mas embrenhou-se no árido deserto, onde não há
nenhum tipo de caminho, nenhum tipo de segurança, portanto. Cruzou fronteiras e
descobriu lugares onde ninguém ainda havia chegado. Tudo era completamente
novo.
Quando saiu da rotina e se atreveu a “ir
para além do deserto”, foi quando se encontrou com um Deus novo: o Deus
que escuta o clamor de Seu povo e está disposto a libertá-lo. A novidade de
Deus se descobre apenas quando ousamos “ir para além do deserto”. Através da
pregação, o pregador tem de levar as ovelhas para além do humanamente possível.
As comunidades precisam ter pregadores
dispostos a “ir além”, para que possam superar os limites do estabelecido, das
metas propostas, do razoável, do que é lógico; que se atrevam a caminhar sobre
as águas, aventurando-se ao que humanamente parece impossível. Apenas esses
pregadores são capazes de pregações libertadoras, porque são livres de
fronteiras. Só eles podem embrenhar-se no deserto, porque perderam o medo de
extraviar-se.
Quando Moisés ultrapassou o horizonte
do cotidiano, Deus o considerou apto para libertar Seu povo e conduzi-lo à
terra prometida. Quem não cruzou os limites do convencional, não pode levar o
povo à Aliança.
O bom pregador não repete sempre o
mesmo, nem aprende as coisas de memória ou lê o que pregou em outra ocasião.
Mas, sempre pergunta: “Como poderia pregar isto de forma diferente? Como farei
para chegar ‘para além’ de onde já cheguei?”
O Papa João Paulo II convocou todos a
uma “nova evangelização”. Nova, não só nos conteúdos, mas nos métodos, nas
formas e nos ardor para levar as pessoas ao encontro de Jesus. Temos, então, de
sair dos nossos costumes, de nossa mesmice, para encontrar novos métodos que
façam com que as pessoas alcancem mais facilmente, com abertura e com gosto, a
eterna mensagem do Evangelho. Mesmo que seja doloroso ou difícil, temos de
aceitar que o tradicional envelheceu, e que o vinho novo precisa de odres
novos.
Deus usou os meios mais diferentes e
interessantes para atrair as pessoas:
·
Aos pastores de Belém os chamou por meio de um
anjo (Lc 2,9-16);
·
Aos
magos, através de uma estrela (Mt 2,10);
·
Às
pessoas, Jesus falava por meio de comparações relativas à vida simples e comum.
O zelo pelo Evangelho nos deve
impulsionar a buscar formas simples para cumprir a grande incumbência de levar
a Boa Nova a todos. Por isso, temos de encontrar novos veículos e meios de
comunicação para fazer a mensagem chegar a pessoas, ambientes e tipos de vida
que ainda não a tenham recebido.
Se um fabricante atesta que seu
produto não está mais tendo saída, estuda a causa e trata de remediá-la, sendo
capaz, inclusive, de mudar-lhe o nome e a embalagem. Então, se o Papa nos chama
a uma Nova Evangelização, necessitamos de humildade para morrer às antigas
formas de pregar e precisamos de intrepidez para explorar novas rotas.
Necessitamos de astúcia e, ainda mais, de paixão pelo Evangelho, para estarmos
sempre pensando nos recursos originais e eficazes para que a semente dê mais
frutos.
Se os empresários de nossa época usam
os meios mais rápidos e eficazes para se comunicar com o publico, com maior
razão, nos devemos encontrar os meios mais apropriados para comunicar a todos,
de qualquer lugar, de qualquer classe social, de qualquer idade, a grandiosa
mensagem que levamos. Por isso, a ousadia em avançar, em ir além, sem medo, sem
apego ao que já sabemos, ao que criamos, mas acreditando que somos sempre
chamados ao “novo”, pois o Espírito Santo é o Deus das novidades, das
surpresas.
Como pregador não existe em ir além.
Você descobrirá a novidade de Deus apenas quando decidir “ir além” de onde já
conseguiu chegar.