O pregador é pessoa de fé e de oração;
batizada no Espírito (cf. At 9,17);
conduzida pelo Espírito (cf. At 16,6-10);
paciente e perseverante diante das perseguições (cf. At 5,41); que testemunha a ressurreição de Jesus; que é membro
do Corpo Místico de Cristo; que está inserida na realidade de seu povo; que é responsável
íntima de Deus, de coração simples; é pessoa das bem-aventuranças.
O pregador tem a experiência de
salvação pessoal, a visão do plano de Deus (Ef
3,17-19; Gal 1,15-16), o zelo pelo Evangelho.
O pregador leva as pessoas a Jesus,
busca o dom da fé, ama e perdoa as traições e perseguições dos irmãos, aceita e
pratica os dons carismáticos, prega com o poder do Espírito Santo, vive o que
prega, fala a verdade, busca a formação.
Dentre tantas características,
comentaremos algumas:
A) O PREGADOR É INSERIDO NA REALIDADE DE
SEU POVO
Como profeta que anuncia a Boa Notícia do Reino do Pai,
mas também denuncia as más notícias que afligem os filhos de Deus, o pregador
não se aliena da realidade que o cerca, mas vive engajado no meio social em que
está. Com sabedoria e equilíbrio, pauta seu viver pela palavra de Deus,
testemunhando Jesus em todos os lugares.
A radiografia que o Documento de
Puebla traz da América Latina mostra uma triste realidade de diferenças
sociais, de pobreza, de desemprego, de corrupção, de prostituição, de
inexistência de condições para viver, de falta de esperança. Por isso, o pregador
não pode ficar indiferente e alienado de seu meio social. Não pode exercer sua
missão sem ter senso crítico desta realidade, fazendo uma análise desses
problemas à luz do Evangelho, com a consciência de sua missão de profeta.
B)
O PREGADOR É RESPONSÁVEL, PACIENTE E PERSEVERANTE.
O pregador tem de ter responsabilidade para preparar com
antecedência suas pregações, para assumir uma formação permanente, para ser
fiel aos compromissos assumidos, tudo fazendo por meio da oração pessoal, do
jejum, da participação nos Sacramentos, da penitência.
Antes mesmo dos outros sinais, como
os prodígios e milagres, a paciência pode aparecer como o primeiro sinal que
confirma o ministério do pregador, isto é, que Deus o constituiu para semente
do Reino.
Estamos num mundo que tem pressa,
onde as pessoas exigem respostas prontas, resultados rápidos que, devido à
pressa, podem não levar a nada. É preciso perseverar no serviço de Deus com
paciência, sabendo esperar o momento exato da hora de Deus. E isso é um dom do
Espírito Santo. Quando sofremos as demoras de Deus (Eclo 2,3) sem irritação,
sem murmuração, esperando com paciência e sendo perseverante nesta espera, não
há dúvida de que O veremos agir. E constataremos que os frutos são bem melhores
e que seu perfume se exala no coração das pessoas. Portanto, seja qual for à
situação, o pregador deve perseguir o alvo com forças sempre renovadas pela
responsabilidade, paciência e perseverança, tendo certeza das palavras de Jesus
em Jo 16,33: “Referi vos estas coisas para que tenhais a paz em Mim. No mundo haveis de
ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo”.
C)
O PREGADOR É ÍNTIMO DE DEUS
É impossível amar alguém de verdade
sem conhecê-lo. É necessário que haja uma proximidade muito grande que faça
nascer à intimidade que vai proporcionar o conhecimento, a confiança,
fortalecendo, assim, a amizade. Assim também é com Deus. Precisamos ter
intimidade com Ele e isto não acontecerá se não nos sentarmos aos Seus pés, se
não ficarmos com Ele, se não nos relacionarmos com Ele. Para podermos fazer a
vontade do Senhor, como pregadores, precisamos ter vida de oração. Somente
ficando com Ele poderemos conhecê-Lo, amá-Lo, escutá-lo e assumir como nossos
os Seus planos de amor.
I
Samuel 3,1-10 nos mostra a necessidade de se ter intimidade com Deus.
Samuel já servia a Deus, mas não O conhecia de fato; dormia junto da Arca da
Aliança, mas não conhecia a Deus. Por isso não soube reconhecer a sua voz.
Falta-lhe intimidade com o Senhor. Corremos o mesmo risco: servir ao Senhor sem
O escutar, sem saber qual é a sua vontade, sem saber como Ele quer que
exerçamos o nosso ministério, porque a nós também falta intimidade com o
Senhor.
D)
O PREGADOR É PESSOA DE FÉ
O
pregador tem de ter uma fé muito madura que o leva à adesão incondicional a
Deus e que o faça amar a Igreja de Jesus Cristo com tudo o que ela tem. Não se
concebe um pregador que tenha dúvidas quanto à Doutrina Apostólica, resistência
em obedecer à hierarquia da Igreja, restrições quanto aos Dogmas da Igreja,
tendências cismáticas ou heréticas. O Papa Paulo VI afirmou que a pregação da
Doutrina não vem do que o individuo pensa. Não podemos pregar o que achamos em
saber primeiro o que Deus já revelou sob o discernimento da Igreja. O pregador
é alguém cuja maturidade da fé repousa na Doutrina Apostólica, recebida pela
Igreja e conservada por ela com muito zelo e amor.
E)
O PREGADOR É HOMEM DAS BEM-AVENTURANÇAS
Em Mt 5, encontramos traços bem delineados que precisam estar marcados
no perfil do pregador:
·
Coração
de pobre: Deus é a
única riqueza do pregador e Ele não é torçado por nada. O pregador que tem o
coração de pobre está sempre disposto a aprender, a ouvir outros pregadores,
nunca está cheio de si porque tudo que faz é para a gloria do Senhor.
·
Aquele que chora: o pregador é aquele
que fala movido pela compaixão do povo que sofre, que chora junto com o povo,
que não fica alheio ao seu sofrimento e angústias. Através da pregação repleta
da unção do Senhor, ampara, consola, exorta e ama esse povo no Senhor.
·
É
manso: o pregador
sabe ser dócil, compreensivo, carinhoso, manso em qualquer situação, sem perder
sua postura de pregador. “Não quebra o
caniço rachado, nem apaga a mecha que ainda fumega” (Is 42,3).
·
É
justo: São José foi
chamado de homem justo porque superou a lei. Poderia ter agido conforma a lei,
mas não querendo o mal para Maria, sua noiva, amou-a para além da lei. Aquele
que é justo alcança a justiça.
·
É
misericordioso: ter
misericórdia é imitar o coração de Jesus. Em Jo 8,1-11, Ele nos mostra que ter misericórdia é sentir no próprio
coração a dor do outro, é gastar tempo com o irmão, é ser como o samaritano que
acudiu o seu próximo sem saber ao menos quem era.
·
Coração
puro: o pregador de
coração puro tem o desejo de servir a Deus com retidão de intenções, não tendo
malícia em seu coração, não deixando que nenhum sentimento ruim alimente seu
interior, para que sua pregação nunca tenha segundas intenções.
·
É
pacífico: ser
pacífico não significa ser fraco, mas saber lidar com as situações de brigas,
de ressentimentos, de desamor, para que se restaure a harmonia, a paz, o perdão
e o amor.
·
Caluniado
e perseguido por causa de Jesus:
o pregador que busca a glória do Senhor faz das perseguições e das calúnias,
adubo para enriquecer a sua humildade. Sabe que o Senhor é a sua defesa. Este
traço do perfil do pregador é fruto que o Espírito Santo faz amadurecer em seu
coração para que aceite as críticas, reconheça os erros e nunca revide os
ataques, mesmo estando com a razão.
F) O PREGADOR USA OS CARISMAS
O Espírito tem multiplicado o número
dos fiéis agraciados com Seus carismas para manifestar a presença de Jesus
Ressuscitado por meio de curas prodigiosas e milagres.
“Em
verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em Mim fará as obras que Eu faço,
e fará ainda maiores do que estas, porque vou para junto do Pai.” (Jo
14,12)
“Os
discípulos partiram e pregaram por toda a parte. O Senhor cooperava com eles e
confirmava a Sua palavra com os milagres que acompanhavam” (Mc
6,20).
Também
hoje o Senhor coopera conosco, confirmando Sua palavra através de nossa
pregação, com os sinais de Sua presença em nosso meio: curas, prodígios e
milagres. Também hoje é preciso que preguemos a palavra com intrepidez e
desassombro, com o poder e a força do Espírito Santo.
Por
causa da humanidade sofredora e doente, Jesus suscita nos fiéis os
carismas para manifestar a presença do Deus Vivo e Ressuscitado é fiel entre
nós. Como se revelava às pessoas daquele tempo por meio de Suas Obras, Ele Se
revela aos ouvintes de hoje mediante os prodígios que faz por meio dos carismas
do Espírito Santo.
G) O PREGADOR É MEMBRO DO CORPO
MÍSTICO DE CRISTO
À
medida que o pregador aprofunda a dimensão mística de seu relacionamento com
Jesus, mais ele se sente inserido na Igreja. Este sentido de pertença à Igreja
de Jesus Cristo marca indelevelmente o perfil do pregador.
Se
o pregador deseja levar alguém a Jesus necessita de uma direção, e somente a
Igreja pode fornecer-lhe tal direção de maneira segura. É por isso que, ao
introduzirmos alguém na comunidade eclesial, podemos ter a certeza de que o
entregamos a Jesus.
Sendo
nossa missão, como pregadores, entregar nossos irmãos-ouvintes a Jesus, devemos
ser como o mais velho dos servos de Abraão, como nos relata Gênesis 24. A proeza desse servo consistiu em encontrar uma noiva
para Isaac e fazê-la se apaixonar por ele sem ainda conhecê-lo. Após dar-lhe
rigorosas instruções, Abraão entregou ao servo um grande tesouro que seria
usado para presentear a noiva e para convencer seus familiares a entregá-la a
Isaac. O velho servo saiu para cumprir a sua missão. Seguiu à risca as
instruções de Abraão, escolhendo uma noiva segundo a vontade de Deus e, para
isso, ele rezou e pediu um sinal. Com aquela fortuna, o servo poderia ter
comprado a noiva para si. Mas, ele era um servo fiel, amigo de Abraão, e sua
missão consistia em conseguir uma noiva para o seu Senhor. Assim, ele usou todo
o seu talento de comerciante, toda a sua perspicácia, toda a sua inteligência e
capacidade de persuasão para tirar Rebeca de onde vivia e fazê-la apaixonar-se
por Isaac que nem ainda tinha visto. De volta da missão, o servo entregou a
noiva ao noivo.
Deus
escolhe o pregador, mune-o de fabulosos tesouros e o envia para conseguir uma
noiva para seu filho. Para cumprir nossa missão precisamos ser amigos do Noivo,
amigos íntimos de Jesus. Esta amizade nos fortalecerá para que sejamos fiéis ao
Amigo, nada retendo para nós, mas inserindo todas as “noivas” na festa nupcial
do Noivo que só acontece de verdade na expressão terrena de sua casa: a Igreja.
Consciente
da grandeza da missão, o pregador certamente terá facilidade para amar a Igreja
com fidelidade e obediência, enquanto Instituição Sagrada, e na pessoa dos
ministros ordenados, assim como vivendo as suas dimensões doutrinárias e
sacramental.
H) O PREGADOR TEM VISÃO DO PLANO DE
DEUS
O conhecimento do plano de Deus
apresenta-se em duas partes que se complementam: uma, no sentido geral, já
revelada a Sagrada Escritura; a outra, em caráter particular, diz respeito à
vontade de Deus para o pregador. Nesta, Jesus revela ao pregador o que ele deve
fazer, qual é a sua missão pessoal no contexto do plano geral.
Um
exemplo da visão destas duas dimensões do plano de Deus encontramos em São Paulo. O conhecimento geral
da vontade divina ele tinha antes de conhecer Jesus e, somente com esse
conhecimento, era um perseguidor dos amigos do noivo. Mesmo após o Batismo no
Espírito, por não saber qual o seu ministério especifico, embora desejasse
ajudar, somente atrapalhava (At 9,20-30).
A partir de Gal 1,15 vemos que o
Espírito Santo dava a Paulo a consciência do plano de Deus para ele e
entendemos, assim, o êxito do ministério Paulino. É que Paulo sabia o que fazer
e como fazer. Jesus lhe revelara o conteúdo de sua pregação (At 26,12-20). Por isso não perdia
tempo e era eficaz, porque sabia como fazer o anúncio. Quando Deus revela o
“que fazer”, revela também o “como fazer”.
I) O PREGADOR TEM ZELO PELO EVANGELHO
Zelo
pelo Evangelho é o dom do Espírito Santo que faz o coração do pregador arder de
desejo de pregar oportuna e inoportunamente (2 Tim 4,2), ao seu redor e além fronteiras. Esse dom não deixa
jamais que o pregador fique parado, pois ao se calar, o fogo do Senhor queima
suas entranhas, conforme 1 Cor 9,16s.
Este
zelo pelo Evangelho é um forte sinal de que o pregador é um escolhido para a
missão de anunciar a Jesus Cristo. É também essencial para que o pregador se
abra para receber o dom da fortaleza. Sem este dom podemos sucumbir frente aos
empates que o inimigo põem em nosso caminho, e correremos o risco de sermos transformados
em pregadores de lamúrias, ao invés de fazer um vivo, alegre, esperançoso e
vibrante anúncio de Jesus Ressuscitado.