Em Mt 28,18-20, temos, em primeiro lugar, uma ordem: IDE. Trata-se de
um mandato de Jesus. Em seguida, se define a missão que deve ser cumprida:
“Fazei
que todas as nações se tornem discípulos, ensinando-as a observar tudo quanto
vos ordenei”.
Todo
pregador é um mandatário de Jesus e, todo mandatário, para ter suas ações
confirmadas por quem lhe deu o mandato, deve cumprir exatamente as instruções
recebidas. Diante disso, fica visível a necessidade de o pregador ser
inteiramente conduzido pelo Espírito Santo. Se o pregador eficaz é aquele que
faz a vontade de quem o enviou, a maior garantia para estar fazendo essa
vontade é ser conduzido pelo Espírito Deus.
O
pregador tem de ter certeza em seu coração de que ele precisa ser
ininterruptamente conduzido pelo Espírito. Não só é uma necessidade que se lhe
impõe, como também é vontade de Deus que seja assim.
A
pregação não é com um comercial de televisão em que, através da propaganda e da
demagogia, se trata de vender um produto. Daí a necessidade de toda a unção que
nos vem do Espírito Santo.
Jesus
chamou homens que trabalhavam com a pesca e lhes disse que seriam pescadores de
homens. Ele sabia que só conquista almas para Deus aquele que faz como o
pescador que todas as manhãs se detém na frente do mar e pergunta: “Deus, e
agora? Por onde vou? Onde estão os peixes hoje” ? Assim faz o pescador porque
no mar não existem caminhos nem atalhos, pois, as ondas nunca são as mesmas e,
a cada dia, o vento sopra diferente e tem-se de tomar uma nova direção.
O
pescador depende cada dia de uma reflexão (oração, comunhão com Deus) e um
questionamento. Sabe que não tem caminho feito e, por isso, tem de ser criativo
e original, pois o mar é um desafio contínuo e diferente. A cada dia pergunta
Jesus qual caminho deve percorrer. Depende diariamente de Deus e não de um
caminho pré-fabricado.
Assim
também o pregador. Se não estiver em sintonia com espírito Santo não saberá o
que pregar e como pregar. Suas pregações nada terão de originalidade, de
criatividade, de persuasão; o Evangelho não será apresentado como a Boa
Noticia; Jesus não será conhecido como o mesmo ontem, hoje e sempre, se o
pregador não aceita ser conduzido pelo Espírito de Deus, se ele não se entrega
a Jesus em medidas, abrindo-se á condução de seu Espírito.
Muitos
que trabalham no campo do senhor convertem seu trabalho apostólico em um
caminho batido, trilhado. Ao imprevisível vento do Espírito o esquematizam num
sistema e num programa. Transformam o vento impetuoso de Pentecostes em ar
condicionado, que se pode regular de acordo com a comodidade do momento.
Realizam sua ação apostólica como que recorrendo a um caminho rotineiro, onde
não há lugar para as surpresas do Espírito.
O
colaborador do Senhor tem de abrir suas velas ao vento do Espírito, para
deixar-se conduzir por Seu misterioso sopro que nunca é igual. Assim como o
pescador tem de renovar seu rumo em todas as manhãs, o pregador deve se arriscar
cotidianamente a horizontes desconhecidos, guiado apenas pelo poder do
Espírito.
Ao
fazer um plano para o seu trabalho pastoral, o pregador deve adotar como
primeiro critério “permanecer aberto para
que o Espírito Santo mude as coisas de acordo com a Sua inexplicável vontade”.
Devemos
não nos apegar aos caminhos apostólicos até aqui conhecidos, e sim
aventurarmo-nos a buscar novos roteiros no mar da evangelização, abrindo nossas
velas para adentrarmos no mundo do rádio, da televisão, do cinema, teatro,
música, ou telenovela evangelizadora. Levar o Evangelho em praças públicas e de
porta em porta, com a criatividade de quem “pelo zelo da casa do Senhor é
consumido” e não tem medo de “ir além”.
Devemos,
como pregadores, usar de toda a “astúcia e ousadia” para propagar o Evangelho,
também usando meios até agora impossíveis. Por isso, o Senhor escolheu valentes
pescadores. Somos nós chamados a ser pescadores, excelentes pescadores, para a
glória do Senhor. E isso só é possível se conduzidos pelo Espírito Santo.
O
Papa Paulo VI, na Evangelii Nuntiandi, n° 75, afirma:
“Nunca
será possível haver evangelização sem a ação do Espírito Santo. Sobre Jesus de
Nazaré, esse Espírito desceu no momento do Batismo, ao mesmo tempo que a voz do
Pai - ‘Este é o meu Filho no qual ponho as minhas complacências’ - manifestava
de maneira sensível a eleição e a missão do mesmo Jesus.
Depois, foi ‘conduzido pelo Espírito’,
que Ele viveu no deserto o combate decisivo e superou a última prova antes de
começar essa Sua missão. Foi ‘com a potência do Espírito’, ainda, que Jesus
voltou pra a Galiléia e inaugurou a Sua pregação, aplicando a Si próprio a
passagem de Isaías – ‘o Espírito do Senhor está sobre Mim. Cumpriu-se hoje –
acrescentou Ele – esta passagem da Escritura’. E aos discípulos que Ele estava
prestes a enviar, disse Ele, soprando ao mesmo tempo sobre eles: ‘Recebei o
Espírito Santo’.
Realmente, não foi senão depois da
vinda do Espírito Santo, no dia de Pentecostes, que os apóstolos partiram para
todas as partes do mundo a fim de começarem a grande obra de evangelização da
Igreja; e Pedro explica o acontecimento como sendo a realização da profecia de
Joel ‘Eu efundirei o meu Espírito. E o mesmo Pedro é cheio do Espírito Santo
para falar ao povo acerca de Jesus, Filho de Deus. Mais tarde, Paulo, também
ele é cheio do Espírito Santo antes de se entregar ao seu ministério
apostólico, e do mesmo modo Estevão, quando escolhido para a diaconia e algum
tempo depois para o testemunho do martírio.
O Espírito que impele Pedro, Paulo, ou os doze a falarem, inspira-lhes as
palavras que eles devem proferir e desce também ‘Sobre todos os que ouviam a
Sua palavra’.
As técnicas da evangelização são boas,
obviamente; mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a ação
discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador nada faz
sem Ele. De igual modo, a dialética mais convincente, sem Ele permanece
impotente em relação ao espírito dos homens. E, ainda, os mais bem elaborados
esquemas com bases sociológica e psicológica, sem Ele, em breve se demonstram
desprovidos de valor”.
Ainda
diz Paulo VI (EN. 42):
“A
palavra continua a ser sempre atual, sobretudo quando ela for portadora da
força divina. É por este motivo que permanece também com atualidade o axioma de
São Paulo: ‘A fé vem pela pregação’- é a palavra ouvida que leva a acreditar”.
Portanto,
o pregador tem duas alternativas: deixar-se conduzir pelo Espírito Santo, ou
deixar-se conduzir pelo Espírito Santo. É Ele que faz, é Ele quem conduz. As
palavras de Jesus desvendavam o segredo de Deus, o Seu desígnio e a Sua
promessa, e modificavam por isso mesmo o coração dos homens e o seu destino
(EN. 11). Somente o Espírito Santo tem poder para isso.